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segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Um descaso tão violento quanto o crime

Peritos gaúchos podiam assistir mais CSI para se inspirar

Durante quase dez anos de idas e vindas da crônica policial diária fiquei familiarizado com os absurdos causados pela falta de estrutura dos órgãos de segurança pública no Rio Grande do Sul, mas ainda hoje (dois anos depois de largar o jornalismo diário) é impossível ver algumas coisas e calar. E esse é um caso típico disso.

Nesta segunda-feira, em seu site o Diário Popular (www.diariopopular.com.br) noticia o encontro do corpo de uma mulher assassinada no interior do município de Piratini. O texto, direto como tem de ser, diz: “Um corpo em estado de decomposição foi encontrado na tarde de domingo (16) na zona rural de Piratini. De acordo com testemunhas, turistas da Serra Gaúcha estavam realizando uma trilha na localidade de Passo da Laranjeira e sentiram um forte cheiro de putrefação. Ao continuarem a caminhada, cerca de 20 metros da margem de um rio, eles perceberam um corpo no meio de diversos pedaços de madeira parcialmente queimados e acionaram a Brigada Militar (BM).” 

Até aí tudo em ordem. O que me chamou a atenção é o que vem depois: “O local foi isolado até a chegada dos peritos. O Departamento Médico Legal (DML) de Pelotas chegou na madrugada e constatou que o esqueleto era de uma mulher. Segundo a perícia, o crime ocorreu há aproximadamente quatro meses (...)”

Vejam o absurdo da coisa: o corpo foi achado durante a tarde e a perícia chegou apenas na madrugada ao local. Piratini está 110 km distante de Pelotas. A crônica policial do jornal não indica nenhum outro crime com morte registrado no final de semana na região, o que me faz pensar que – pelo tempo levado - os peritos foram a pé até o interior de Piratini. E com os quase 40ºC registrados na tarde de domingo deve ter sido duro chegar até lá.


O fato da vítima já estar morta há quatro meses, conforme laudo preliminar, não isenta a perícia do descaso diante do crime. O tempo passa, mas os problemas e o desinteresse seguem os mesmos.  



Por isso séries como CSI chamam tanto atenção. São coisa de outro mundo.