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segunda-feira, 27 de junho de 2011

Os evangélicos brasileiros e a liberdade de expressão

Respeito à liberdade de expressão não parece ser
o ponto forte dos evangélicos brasileiros

É incrível como os evangélicos brasileiros estão sempre preparados para rechaçar qualquer crítica ou dúvida lançada contra suas crenças, opiniões ou ações. Basta um blog, site, jornal, revista, emissora de TV ou rádio usar à expressão “evangélico” seguida de alguma crítica para surgir dezenas de defensores prontos a lotar caixas de e-mail ou de comentários com defesas furiosas (no fim do post estão alguns exemplos disso).

A reação imediata dos crentes chama atenção tanto pela capacidade de organização e mobilização como pela intolerância com relação às críticas e opiniões divergentes das suas.


Ao contrário dos católicos, que aceitam tranquilamente as piadas (alguns conseguem até rir delas); que se indignam com denúncias de abusos cometidos por seus líderes ou simplesmente aceitam - até com certa resignação - questionamentos sobre seus dogmas, os evangélicos partem para a briga sem respeitar ponto de vista ou humor alheio. Falou mal de um evangélico (mesmo que seja ele um juiz capaz de atropelar a Suprema Corte brasileira com uma decisão fundamentada exclusivamente em pontos de vista pessoais) danou-se.

O mais assustador nisso tudo é o fato de que milhões de brasileiros parecem estar desaprendendo a viver em um país democrático no qual o livre direito de expressão e opinião é assegurado na Constituição (o mais importante conjunto de leis da nação).

Levando-se em consideração a representação política crescente dos evangélicos (hoje são 74 deputados federais entre 513) não levará muito tempo até elegerem um Presidente da República e, se mantida essa tendência de imposição de ideias e desrespeito à livre expressão, não duvido ver o Brasil transformado em uma república fundamentalista cristã. E é aí que mora o perigo.



sábado, 25 de junho de 2011

Dinheiro público: meu dinheiro, seu dinheiro, nosso dinheiro

Imprensa não ajuda a difundir a ideia de que o
dinheiro público é de todos

Ao assistir uma edição do Conspiracy Theory apresentado pelo ex-mariner, ex-lutador de luta livre, ex-ator e ex-governador de Minessota (EUA), Jesse Ventura sobre um projeto militar norte-americano para dominar o clima, me chama atenção – como já vem chamando há anos – a consciência do povo estadunidense de perceber o dinheiro público como seu.

Ao contrário do povo brasileiro, os norte-americanos têm entranhado em seus conceitos sobre sociedade o de serem contribuintes das finanças públicas, ou seja, a grana do governo não é do governo, é do povo, afinal de contas chegou até os cofres públicos através dos impostos e taxas pagas diariamente pelos cidadãos. Esta consciência é reforçada pela imprensa norte-americana que desde os primórdios usa de modo recorrente a expressão “dinheiro dos contribuintes” ajudando a espalhar e enraizar na sociedade essa consciência positiva.

Infelizmente no Brasil isso não ocorre. Ao preferir usar termos como “recursos federais” ou “verbas estaduais” ou “dinheiro da prefeitura”, a imprensa ajuda a disseminar a falsa impressão de que cada centavo existente nos cofres governamentais tem dono e esse dono é o governo. A expressão “dinheiro público” - aquela que mais se aproxima do conceito “o dinheiro dos governos é dos cidadãos” - costuma aparecer basicamente em notícias sobre desvios, desperdícios, fraudes com o objetivo de mostrar à população como seu dinheiro é mal usado.

A partir disso a ideia que fica é: quando a grana é usada para algo bom, para uma obra que resolveu um problema ou melhorou a vida das pessoas ele pertence a prefeitura, aos governos do Estado ou Federal. Mas quando é furtado, desviado, gasto sem necessidade, pertence ao povo.

Ao atribuir a propriedade de verbas bem usadas aos governos, a mídia propagandeia ações políticas, valoriza prefeitos, governadores e presidentes e afasta o povo do papel central da história, que é o de financiador das ações estatais.

Ao fazer isso a imprensa reduz também a consciência da população de que todo centavo que entra ou sai de cofres públicos saiu de seu bolso e, consquentemente, diminui a consciência coletiva de que qualquer cidadão tem o direito de cobrar explicações sobre o uso de verbas públicas, de ser consultado sobre seu uso e, sobretudo de ser informado de modo transparente - não através de balanços gigantescos publicados só Deus sabe onde, recheados de termos incompreensíveis - sobre como é usado.

Contribuir para a evolução do senso crítico da sociedade, para a formação de uma cidadania verdadeira e participativa da vida política é um dos papeis da imprensa livre e digna.

É triste perceber que às vezes basta alterar uma ou outra palavra para conseguir atingir este objetivo, mas nem mesmo assim os chefões das redações brasileiras fazem alguma coisa, afinal de contas, até mesmo a imprensa ganha com uma população incapaz de fazer valer seus direito, afinal quem não reconhece o que é seu por direito, não questiona, não cobra, não exige e aceita acomodadamente tudo que lhe for sugerido. 

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Um mundo de super doidos

Barata Flamejante: enfim um herói brasileiro
Fazia tempo que não via na tevê brasileira alguma coisa tão divertida. Nesta segunda (20) assisti ao segundo episódio da série Barata Flamejante, exibida pelo canal Multishow e produzida em parceria com o diretor Ian SBF, o pessoal do Anões em Chamas e a Fondo Filmes.

Ao contrário das fórmulas batidas de paródias da própria TV ou de retratos esteriotipados do cotidiano brasileiro, a série aposta num humor singular baseado no bizarro, no insólito. O argumento, por si só já é capaz de provocar riso: Augusto, um sujeito comum resolve virar um super herói. Pressionado pela mulher que não aceita vê-lo andar pela casa, pelo prédio e até pela rua com um traje ridículo e acreditando ter super poderes que não tem, ele vai procurar ajuda em uma terapia de grupo e o que encontra? Uma pá de caras, que como ele, acreditam ser super heróis.

Tudo é hilário, a começar pelos nomes de guerra, passando pelos trajes dos “super heróis” e, especialmente, pelos super poderes como, por exemplo, o Homem Câmera Lenta (o nome já diz do que ele é capaz!) ou Chocolate, cujo poder se resume a ser “gostosinho”.

Segundo o site do Multishow a série tem 13 capítulos e será exibida nas segundas-feiras, às 22h, depois da edição do Jornal Sensacionalista (outra bela fonte de risadas).

Para quem quiser ver um pouco do Barata Flamejante, aí está o teaser: 




domingo, 5 de junho de 2011

Bope, a institucionalização do mal

Ao invadir violentamente o quartel central do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro, na manhã deste sábado, o Bope vestiu de vez a carapuça que lhe serve: a do mal institucionalizado.

Ao atacar colegas de farda que protestavam pacificamente com suas famílias (entre as quais muitas crianças) com a mesma violência usada costumeiramente em operações contra criminosos os integrantes da unidade – alçada ao status de celebridade nacional pelos filmes da série Tropa de Elite - passaram o atestado de que, realmente, são os cães de guerra do Governo do Rio e estão prontos a apontar seus fuzis para quem que seja quando a ordem for dada não se importando com conseqüências ou repercussões.

A tropa que orgulha e provoca êxtase nos apaixonados por forças militares ganha salários tão desgraçados quanto os pagos aos demais PMs e bombeiros do Rio de Janeiro (R$ 1.200 por mês). Mas nem por isso se faz de rogada na hora de disparar suas bombas, balas de borracha e fuzis contra colegas desarmados em encurralados dentro de um quartel.

A pergunta que me ocorre é: quando os homens do Bope resolverem protestar por melhores salários a quem o governo do Rio irá recorrer para sufocar o protesto? Aos Fuzlieiros Navais, quem sabe? 

sábado, 4 de junho de 2011

A imprensa carioca e a revolta dos bombeiros

Cobertura da mobilização dos bombeiros cariocas se limita à versão oficial

A revolta dos bombeiros cariocas por melhores salários é, talvez, um dos mais impressionantes episódios do ano em termos de imagens, conteúdo e dramaticidade. Um prato cheio para os bons repórteres e os bons jornais sejam impressos ou de televisão. A cobertura dos acontecimentos da sexta-feira e do sábado, no entanto, foi lamentável.

Com raras exceções a imprensa carioca limitou-se a dar a versão oficial dos fatos, em vez de buscar os detalhes e as histórias por trás da invasão do Quartel Geral do Corpo de Bombeiros e, como era de se esperar, a ação capitaneada pelo Bope não recebeu qualquer crítica por parte da grande imprensa, afinal de contas a Tropa de Elite é a queridinha das TVs e jornais sensacionalistas.

Jornais (O Globo e Extra), portais de internet e emissoras da Globo prenderam-se à versão oficial do caso, condenando a invasão do quartel por parte dos bombeiros amotinados e fazendo questão de apoiar a versão governamental de que a rotina da corporação não foi alterada por causa dos protestos e, claro, dando todo o espaço possível para o governador Sérgio Cabral falar o que quiser e bem entender. Em um dos telejornais o comentarista da TV Globo foi direto ao ponto central da pauta da emissora sobre o caso: “a lei e a ordem devem ser mantidas e retomar o quartel a manter a ordem é necessário e deve ser feito”. O “drama” do coronel da PM agredido pelos bombeiros ganhou tanto ou mais espaço que o drama real das famílias dos bombeiros atacados e presos pelo Bope.

A Rede Record, que adora manter a boa relação com a polícia para conseguir imagens exclusivas, não fez muito diferente. Apesar de usar seu helicóptero para mostrar imagens dos bombeiros presos em São Gonçalo fazendo um SOS humano, a emissora de TV se focou na versão oficial do governo e pouca atenção deu aos manifestantes e ao drama das famílias e, muito menos, questionou a validade da ação de invasão do quartel central.

O Dia, um dos jornais mais populares do Rio de Janeiro, avançou um pouco mais na cobertura e fez um resgate decente da situação salarial dos bombeiros e lançou algumas críticas ao comando da PM. Já o Jornal do Brasil (JB) foi o único a dar igual espaço tanto para os manifestantes quanto para o governo e, produziu matéria com os líderes da manifestação dando voz às suas críticas ao governo fluminense. Coube, também, ao JB o mérito de relembrar que a mobilização dos bombeiros começou semanas atrás e ser o único a mostrar na prática o que acontece por causa da mobilização: o Corpo de Bombeiros demorou 1h30 para atender um incêndio em uma loja na Lapa na tarde de sábado.

Nenhum dos principais veículos de imprensa carioca, no entanto, foi capaz de lembrar que o confronto entre PMs e Bombeiros é o enfrentamento de servidores da área da segurança em um estado no qual segurança pública é sinônimo de caos e que sofrem com os mesmos problemas estruturais e baixos salários.

E, um pouco mais do que isso, é um embate que expõe uma grave crise institucional no governo do RJ e a incapacidade gerencial de um governador que conta com uma inexplicável proteção midiática e do Governo Federal.