Dos 12 anos que vivi o
jornalismo diário, quatro estive completamente imerso no noticiário policial,
enquanto nos outros oito atuei – pelo menos - como plantonista da área. E se
tem uma coisa que hoje percebo é: a editoria de Polícia deveria ser parada
obrigatória para todos os focas que colocam seus inseguros pés dentro de uma
redação.
Essa impressão advém de
alguns pontos básicos que integram a rotina diária de um repórter policial,
como por exemplo, aprender que a notícia não tem hora para acontecer. Ao
contrário da turma da Cultura ou do Esporte que trabalha basicamente em cima da
apresentação e cobertura de eventos com horários pré-determinados (o que torna
possível programar e organizar tanto a produção como o fechamento das matérias)
o repórter de Polícia deve estar pronto para o trabalho a qualquer hora do dia,
da noite ou da madrugada, pois o crime não tem hora para acontecer. Essa
imprevisibilidade dota o sujeito de uma capacidade de produzir numa velocidade
consideravelmente superior a maior parte da redação, exceção feita à turma do
Geral, que pega tão pesado quanto na Polícia.
A necessidade de estar
sempre preparado para levantar de sopetão da cadeira, pegar o bloco e sair –
literalmente - correndo para chegar rápido a cena de um crime ou para acompanhar
uma perseguição policial, ajustam o timing
do jovem repórter e o ajudam a se acostumar com o ritmo acelerado do jornalismo
diário. Isso sem falar que é ótimo para a gurizada ir se acostumando a
controlar a adrenalina e, claro, a pressão arterial (o que deve ser uma
constante na vida dentro da redação).
A rotina tanto do plantão de
polícia, como das delegacias é outro ponto que colabora na formação do foca. A obrigação
de analisar minuciosamente boletins de ocorrência em busca de informações para
as matérias aguça a percepção sobre detalhes e a necessidade de checar cada
informação obtida com investigadores e delegados desenvolve a capacidade de
questionar e confrontar dados, tão necessária aos bons repórteres. Isso sem
falar que o chá de banco nas antessalas de delegados ajuda a forjar a
paciência necessária a qualquer jornalista.
Outro ponto crucial é a
convivência nada agradável, mas essencial, com um elemento que volta e meia
está presente no jornalismo diário: a morte. Com toda certeza não há repórter
mais habituado a lidar com a morte em seu dia-a-dia que o repórter policial. Essa
lida quase diária (no caso dos jornais do interior), inicialmente assusta os
jovens repórteres, mas com o passar do tempo dota-os de uma capacidade ímpar no
que diz respeito a encontrar meios de interpretar e noticiar esse que é o maior
drama da nossa existência, o fim da vida.
Ao contrário do que muitos
pensam conviver seguidamente com a morte não embrutece o repórter, pelo
contrário, o faz capaz de compreender como a vida pode ser frágil e, desse modo,
torna-o apto a compreender todo seu valor convertendo-o em um ardoroso defensor
de sua preservação em todos os níveis e formas.
Aos futuros jornalistas que
porventura passarem os olhos por este post
fica a dica: peçam vagas de estágio nas editorias de Polícia e não irão se
arrepender do que isso representará para suas vidas profissionais.
Aos editores fica o pedido:
coloquem essa gurizada para ralar na Polícia antes de qualquer coisa, pois com
certeza terão melhores repórteres no futuro.