Enlatados: assim se sentem os usários do transporte coletivo em Pelotas |
É impressionante como alguns
problemas de Pelotas se perpetuam, sem que ninguém faça nada para resolvê-los.
No topo da lista, me arrisco a colocar o transporte coletivo.
Por ter morado ou trabalhado
em praticamente todos os bairros da cidade desde 1994 (quando aportei por estas
bandas) e nunca ter tido carro, não é de hoje que conheço de perto essa
realidade.
Tanto como usuário, ou como
repórter, sei o que é enfrentar ônibus superlotados seja no início ou no final da
manhã, tarde ou noite; ver cobradores amedrontados diante de adolescentes
armados anunciando assaltos; penar mais de hora (seja no sol ou na chuva) a
espera de ônibus cujos motoristas deliberadamente decidem não cumprir horários
e, também, já ser surpreendido por motoristas que sem prévio aviso e por conta
própria alteram as rotas de seus veículos deixando dezenas de pessoas a esperar
em esquinas vazias pelas quais não irão passar apesar de ser tarde da noite ou do
céu estar desabando.
E o que mais me impressiona
é: desde 1994 nada ou muito pouco mudou. Ou seja, em 19 anos o sistema de
transporte público de Pelotas segue praticamente o mesmo. Mudaram os nomes de
algumas empresas, os ônibus comunitários apareceram e desapareceram, algumas
novas linhas foram criadas, mas na essência tudo continuou como estava.
Horários precários e itinerários que mudam sem explicação são uma constante especialmente na Zona Norte |
Horários e rotas
praticamente não sofreram alterações significativas, mesmo diante do
crescimento populacional de algumas áreas. O exemplo mais significativo é o da
Zona Norte, mais especificamente, dos arredores da avenida 25 de Julho, onde desde 2009 foram
instalados três grandes empreendimentos imobiliários que somados possuem 1.428
residências, mas que seguem sendo atendidos apenas por uma linha a Py Crespo. E, o mais incrível
disso é que esta linha mantém a mesma grade de horários de pelo menos dez anos
atrás!
Apesar de aproximadamente mais de 5 mil pessoas terem se mudado para aquela área da cidade a empresa responsável pelo
transporte segue retirando seus carros de circulação a partir das 23h nos dias
de semana e às 22h30 nos domingos. Ou seja, aos novos moradores da região e que
dependem de ônibus restam duas alternativas: aceitar essa espécie de “prisão
domiciliar com toque de recolher” ou se arriscar em caminhadas que podem
superar fácil a casa dos 2,5 km até a avenida Fernando Osório, para usar outras linhas da Zona Norte.
O Sítio Floresta é outro
exemplo. Apesar da população ter praticamente dobrado nos últimos dez anos, os moradores do local seguem tendo à disposição a mesma grade de horários do início do
século, com ônibus de hora em hora nos domingos e cujo último horário, nos dias
semana, acaba às 23h35min (saindo do centro).
Pouco ou nada mudou nas duas últimas décadas |
Mas engana-se quem pensa que
os problemas estão limitados à Zona Norte. No outro extremo da cidade, os bairros
Navegantes e Fátima também experimentaram um grande aumento populacional na
última década e seguem atendidos por uma única linha: Cohabpel Navegantes.
O mesmo se pode falar do loteamento Dunas, vila Bom Jesus, Laranjal, Barro Duro e Z-3.
O mesmo se pode falar do loteamento Dunas, vila Bom Jesus, Laranjal, Barro Duro e Z-3.
Ou seja, os problemas seguem
pipocando por todos os lados da cidade, enquanto as empresas reinam absolutas
diante da falta de uma licitação séria do serviço e a fiscalização desapareceu
devido a falta dos Agentes de Trânsito, responsáveis por esse serviço.
Diante da situação não me surpreenderia ao ver os saudosistas de plantão defendendo a volta do bonde (puxado a burro!) como forma de solucionar o problema. E diante do que conheço, até não penso ser má ideia!
E assim Pelotas vai...(a pé, porque o ônibus tá lotado ou não veio!)