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segunda-feira, 13 de maio de 2013

"Eu quero saber como é que vem: vem de bus ou vem de trem?"



Enlatados: assim se sentem os usários do transporte coletivo em Pelotas
É impressionante como alguns problemas de Pelotas se perpetuam, sem que ninguém faça nada para resolvê-los. No topo da lista, me arrisco a colocar o transporte coletivo.
Por ter morado ou trabalhado em praticamente todos os bairros da cidade desde 1994 (quando aportei por estas bandas) e nunca ter tido carro, não é de hoje que conheço de perto essa realidade.

Tanto como usuário, ou como repórter, sei o que é enfrentar ônibus superlotados seja no início ou no final da manhã, tarde ou noite; ver cobradores amedrontados diante de adolescentes armados anunciando assaltos; penar mais de hora (seja no sol ou na chuva) a espera de ônibus cujos motoristas deliberadamente decidem não cumprir horários e, também, já ser surpreendido por motoristas que sem prévio aviso e por conta própria alteram as rotas de seus veículos deixando dezenas de pessoas a esperar em esquinas vazias pelas quais não irão passar apesar de ser tarde da noite ou do céu estar desabando.

E o que mais me impressiona é: desde 1994 nada ou muito pouco mudou. Ou seja, em 19 anos o sistema de transporte público de Pelotas segue praticamente o mesmo. Mudaram os nomes de algumas empresas, os ônibus comunitários apareceram e desapareceram, algumas novas linhas foram criadas, mas na essência tudo continuou como estava.

Horários precários e itinerários que mudam sem explicação
são uma constante especialmente na Zona Norte
Horários e rotas praticamente não sofreram alterações significativas, mesmo diante do crescimento populacional de algumas áreas. O exemplo mais significativo é o da Zona Norte, mais especificamente, dos arredores da avenida 25 de Julho, onde desde 2009 foram instalados três grandes empreendimentos imobiliários que somados possuem 1.428 residências, mas que seguem sendo atendidos apenas por uma linha a Py Crespo. E, o mais incrível disso é que esta linha mantém a mesma grade de horários de pelo menos dez anos atrás!

Apesar de aproximadamente mais de 5 mil pessoas terem se mudado para aquela área da cidade a empresa responsável pelo transporte segue retirando seus carros de circulação a partir das 23h nos dias de semana e às 22h30 nos domingos. Ou seja, aos novos moradores da região e que dependem de ônibus restam duas alternativas: aceitar essa espécie de “prisão domiciliar com toque de recolher” ou se arriscar em caminhadas que podem superar fácil a casa dos 2,5 km até a avenida Fernando Osório, para usar outras linhas da Zona Norte.

O Sítio Floresta é outro exemplo. Apesar da população ter praticamente dobrado nos últimos dez anos, os moradores do local seguem tendo à disposição a mesma grade de horários do início do século, com ônibus de hora em hora nos domingos e cujo último horário, nos dias semana, acaba às 23h35min (saindo do centro).

Pouco ou nada mudou nas duas últimas décadas
Mas engana-se quem pensa que os problemas estão limitados à Zona Norte. No outro extremo da cidade, os bairros Navegantes e Fátima também experimentaram um grande aumento populacional na última década e seguem atendidos por uma única linha: Cohabpel Navegantes.

O mesmo se pode falar  do loteamento Dunas, vila Bom Jesus, Laranjal, Barro Duro e Z-3.

Ou seja, os problemas seguem pipocando por todos os lados da cidade, enquanto as empresas reinam absolutas diante da falta de uma licitação séria do serviço e a fiscalização desapareceu devido a falta dos Agentes de Trânsito, responsáveis por esse serviço.

Diante da situação não me surpreenderia ao ver os saudosistas de plantão defendendo a volta do bonde (puxado a burro!) como forma de solucionar o problema. E diante do que conheço, até não penso ser má ideia!

E assim Pelotas vai...(a pé, porque o ônibus tá lotado ou não veio!)

quarta-feira, 8 de maio de 2013

QUANDO FOMOS À GUERRA

Soldados da FEB seguem rumo ao Monte Castelo

Poucos lembram ou poucos sabem. Mas Pelotas deu sua contribuição à vitória aliada na II Guerra Mundial. Em dezembro de 1944, 64 jovens da região de Pelotas foram selecionados para integrar a Força Expedicionária Brasileira (FEB) que já marcava presença nos campos de batalha da Europa. 

Depois de dois meses de treinamento intensivo, 54 deles desembarcavam no porto de Nápoles (ITA) para lutar em nome da Pátria pela liberdade.

Ao final de uma campanha que durou exatos oito meses, 52 deles voltaram para casa em meio a festas e recepções estrondosas. Outros dois, porém, tombaram em combate: os canguçuenses Izidro Matoso e Hortêncio Rosa, mortos nos campos de batalha da Itália. Seus restos mortais estão enterrados no monumento aos mortos da II Guerra Mundial na cidade do Rio de Janeiro.

O pelotense Osmar Neutzling (operador de morteiros na guerra) lembrava décadas depois: "Só o que vimos na Itália, além dos combates, foi desgraça, miséria e destruição, nunca mais quero ver outra guerra"

Tropas brasileiras na base do Monte Cassino (ITA) (ninguém estava lá para brincar!)
Em 15 de abril de 1945, no último dia da tomada da cidade italiana de Montese - que homenageia os pracinhas brasileiros que a libertaram do exército alemão com uma praça batizada de Piazza Brasile - o grupo saído de Pelotas há quatro meses atrás sofre a primeira baixa: Izidro Matoso, que integrava o 6º RI é ferido em combate e morre no hospital do acampamento.

Uma semana depois, quando a FEB encurrala os alemães as margens do rio Reno, Hortêncio Rosa cai em combate, quando seu pelotão que integrava o 1º RI, avançou sobre o inimigo que estava entocado nos barrancos do rio.

No final do mês, os alemães se renderam à FEB.

Os números registrados nos documentos oficiais garantem os créditos da vitória brasileira: "(...) as forças alemãs que renderam-se para a FEB, no final de abril de 1945 consistiam de: 19.689 soldados, 892 oficiais, 2 generais, 80 canhões, 5000 viaturas e 4000 cavalos (...)".

Em 02 de setembro de 1945, os pelotenses já estão de volta e experimentam o sabor do retorno vitorioso depois de oito meses fora de casa. "O desfile da vitória na Itália, sob o som do hino Nacional e aplausos do povo italiano e a chegada em casa, foram os momentos mais emocionantes da guerra" relatou Neutling.

A primeira homenagem oficial prestada aos pracinhas em território nacional ocorreu na pequena Canguçu, onde em setembro de 1945, foi inaugurada uma galeria com fotos dos dois filhos da terra mortos na Itália. A homenagem que então partiu do já falecido fotógrafo Egídio Camargo e integrou as comemorações oficiais da Semana da Pátria daquele ano, pode ainda hoje ser visitada no Museu Municipal Capitão Henrique José Barbosa. 

segunda-feira, 6 de maio de 2013

O cinema americano do Oscar 2013


A agente Maya  (Jessica Chastain) de "A Hora Mais Escura" - responsável por encontrar Bin Laden -
em uma cena na qual a fotografia fala por sí só
Sei que pode parecer mais uma “Teoria da Conspiração” e, há grande chance disso ser verdade, mas nas últimas semanas tenho me dedicado a assistir aos principais filmes de 2012, ou seja, aqueles que estiveram na lista dos cotados para levar um Oscar em 2013 e é impossível não prestar a atenção na mensagem subliminar contida em todos eles: os EUA são “foda” e os inimigos de seus ideais (seja quem for) estão destinados a desgraça e ao inferno.

Não é de hoje que os Estados Unidos investem pesado no cinema como ferramenta de formação da opinião pública.

Nos anos 40, filmes como “O Grande Ditador”, estrelado por Charles Chaplin (1940), além de “Sargento York” (1941), “Rosa de Esperança” (1942) e “Air Force” (1944) todos vencedores ou indicados ao Oscar em alguma categoria, em seus respectivos anos, são provas de como os EUA usaram o cinema para mobilizar, emocionar ou convencer sua população sobre a importância da participar da Segunda Guerra Mundial. Isso sem falar na animação “Los Tres Caballeros” (1944), dos estúdios Disney estrelado pelo Pato Donald, Zé Carioca e Panchito (um galo mexicano), que descaradamente pregava a amizade entre os países da liga Pan-Americana, em um período que os EUA precisavam desesperadamente de aliados capazes de abastecer suas tropas que lutavam na Europa.

E em 2013, qual a surpresa? Figuram na lista dos vencedores ou indicados ao Oscar produções como Lincoln, Argo e A Hora Mais Escura (que acabei de assistir). Coincidência ou não, os dois últimos abordam diferentes momentos da luta norte-americana contra os árabes, nos quais ao final os “mocinhos” (americanos) vencem com glória e honra. Enquanto o primeiro conta a história de um ícone norte-americano, o presidente Abraham Lincoln que aboliu a escravatura e venceu a guerra civil que dividiu o país.

Mas afinal de contas, de onde advém minha teoria da conspiração?

Bin Laden: a personificação do mal pelo olhar contemporâneo do  cinema dos EUA
Simples: Em tempos nos quais a política externa e a imprensa norte-americana fazem questão de deixar às claras o aumento da tensão com os países do “Eixo do Mal”, no qual se inclui o Irã, produções premiadas destacam a vitória norte-americana sobre os rrabes. Tanto em “Argo” como em “A Hora Mais Escura” a inteligência personalizada pela CIA vencem a força bruta árabe.

No primeiro, a malícia em montar uma falsa produção cinematográfica ajuda a libertar sete diplomatas que escaparam da embaixada norte-americana invadida pelos revolucionários islâmicos. Apesar ser um bom filme de suspense capaz de prender a atenção do espectador, não faltam cenas dedicadas a mostrar os revolucionários iranianos como sádicos - que promovem enforcamentos públicos – ou fanáticos que colocam rifles automáticos nas mãos de mulheres e crianças.

Já em “A Hora Mais Escura” as torturas promovidas pela CIA em campos secretos, são justificadas com a insistência e mostrar atentados terroristas ocorridos na Europa e nos EUA durante o pós-11/09/2001.

Nem mesmo a cena que mostra a reunião de agentes com um dos diretores da CIA na qual ele dispara que: “Temos os nomes de 20 líderes. Só eliminamos 4! Eu quero alvos! Façam seu trabalho tragam-me gente para matarmos”, é capaz de tirar o foco do espectador da mensagem principal do filme: árabes são terroristas e merecem morrer.

A operação final que culmina na alardeada morte de Osama Bin Laden é realçada com cenas do assassinato de uma de suas filhas e até de uma criança, mas nem isso se sobrepõe - ao olhar do espectador - a expressão de vitória da agente da CIA diante do cadáver de Bin Laden.

Agora penso: se alguém como eu, que não teve qualquer envolvimento emocional com as merdas acontecidas em 11/09/01, torce pela vitória dos “mocinhos”, imaginem o público norte-americano?

Nada me parece mais apropriado para gerar um sentimento pró-invasão do Irã do que isso. E a partir da notícia deste final de semana de que um iraniano radicado nos EUA há mais de 30 anos pretende concorrer nas próximas eleições presidenciais, eu perderia o sono se fosse o presidente Mahmoud Ahmadinejad ou qualquer outro iraniano.