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sexta-feira, 13 de julho de 2012

A Dama de Ferro e a valorização do pensar


Dias atrás assisti a Dama de Ferro (FRA,GBR, 2011), filme sobre a ex-primeira ministra inglesa Margaret Thatcher, celebrizada mundialmente com o apelido de Dama de Ferro (The Iron Lady).

Mais do que um excelente filme sobre uma estadista, que marcou sua época por ser uma das percussoras do nefasto neoliberalismo, a película dirigida pela inglesa Phyllida Lloyd (nascida no célebre 17 de junho) mostra um lado pessoal e extremamente particular dessa mulher - que ordenou o massacre de 323 jovens argentinos ao determinar o afundamento do cruzador General Belgrano durante a malfadada guerra pela posse das Malvinas – e que termina sua vida mergulhada em uma das mais cruéis doenças, o Mal de Alzheimer.  

Muito além da soberba atuação de Meryl Streep, o filme contém cenas impagáveis capazes de nos fazer pensar sobre o mundo construído a partir dos anos 80. Uma que, particularmente, me chamou atenção é aquela na qual a ex-primeira ministra - já atormentada pela doença – consulta um médico e fala de sua impressão sobre o mundo atual.

Em um diálogo curto, a personagem de Meryl Streep revela sua inconformidade com o mundo que percebe à sua volta apesar da doença. “As pessoas estão mais preocupadas em sentir. Sou de um tempo no qual as ideias eram o mais importante que os sentimentos”, diz Thatcher.
Concordando ou não com suas políticas nefastas, é impossível discordar de Thatcher, quando lamenta a falta de importância dada na atualidade para as ideias, para o pensar, em favorecimento do sentir. Ao menos na trama imaginada pela roteirista inglesa Abi Morgan, a Dama de Ferro está recheada de razão.

Muito além de Thick as brick

Capa de Thick as Brick imitou tablóides ingleses e gerou a lenda de que
a música teria sido escrita por um garoto

“Eu posso fazer você sentir, mas não posso fazê-lo pensar”, este verso foi escrito no início dos anos 70 por Ian Anderson, vocalista e líder do Jethro Tull e abre a primeira estrofe do clássico álbum Thick as brick (espesso como um tijolo), lançado em 1971 e o quinto da banda britânica.

 Mais do que um verso de uma obra prima do rock mundial, a frase me soa como um aviso inaudível para a maior parte das pessoas neste famigerado século XXI, no qual as ideias estão relegadas a um plano de endereço incerto e não sabido e, onde velhos ideais e ideologias são rotineiramente maquiados e reapresentados como grandes novidades diante de uma plateia incapaz de formular suas próprias conclusões ou soluções, por estar demasiadamente preocupada com o sentir.

Ao passar os olhos pelas páginas dos jornais do dia ou assistir os telejornais acéfalos das grandes emissoras fica óbvio que a maior parte de meus contemporâneos está mais preocupada com temas de “extrema importância” como a forma física, a alimentação saudável, a boa aparência, o viver mais, o estar na moda, ou seja, obcecada pela busca da felicidade e da realização individual. Esse pensamento médio e medíocre dá forma a uma constatação assustadora: estamos desaprendendo a pensar no coletivo, no todo.

O homem, animal que conseguiu se sobrepor a todas demais espécies graças a seu instinto coletivo, é hoje um ser individualista e, a partir disso vulnerável. Como sociedade essa vulnerabilidade reside no fato de que a cada dia se reduz a quantidade daqueles que dominam o conhecimento e, portanto, se sentem capazes de pensar e formular soluções para nossos problemas reais e alternativas para nosso futuro e nossa própria existência. Ou seja, se está entregando - em bandeja de prata - a um número reduzido de pessoas (nem sempre confiáveis) o direito de determinar os caminhos de toda humanidade.

Há mais de 40 anos, o mesmo autor da frase inicial deste texto escreveu: “Vamos lá, heróis da infância! Não vão se levantar das páginas de seus quadrinhos, seus super velhacos? E nos mostrar o caminho?”. E é assim que imagino a maior parte das pessoas deste século: olhando para a tevê esperando que dali saia o homem ou a mulher, que como um super herói irá livrá-los de toda e qualquer desgraça para que possam seguir com sua busca pela felicidade, afinal de contas salvar o mundo dá trabalho, pensar nos outros é perda de tempo e, no final das contas, o que importa é “que estou feliz comigo mesmo”.