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quinta-feira, 28 de julho de 2011

Sob os bigodes do “guarda”

Às 20h da noite de quarta-feira (27) a lotérica instalada dentro do hipermercado BIG, em Pelotas, foi assaltada. A ação, conforme a imprensa, demorou 15 minutos durante os quais três pessoas foram feitas reféns e centenas de outras ficaram “presas” no andar de cima onde funciona o supermercado. Além do dinheiro do caixa, os ladrões levaram as armas de um cliente da lotérica e do segurança do estabelecimento. Até aí nada de novo.

O surpreendente da história é o fato do hipermercado estar a menos de 300 metros tanto do quartel do 4º Batalhão de Polícia Militar (BPM) como do Comando Regional da BM e que durante a ação dos bandidos nenhum policial apareceu no local. Os primeiros policiais chegaram ao local somente após a fuga dos assaltantes que – novamente conforme a imprensa – fugiram em duas motos e um carro.

Tudo bem que a BM não tem bola de cristal, mas será que nenhum segurança ou cliente do andar superior ligou para o 190? Outra pergunta que me ocorre é: o que fez os assaltantes se sentirem tão à vontade para atacar um estabelecimento daquele porte tão próximo ao quartel da BM?

Apesar de afastado do dia-a-dia da cobertura policial e das informações de bastidores (privilégio dos repórteres da área) arrisco formular uma resposta a essas duas perguntas: a BM não foi ao local porque não tinha pessoal na rua para isso.

É fato e, aprendi isso durante quase dez anos de crônica policial, que a ousadia da bandidagem é proporcional a incapacidade da polícia em garantir a segurança da comunidade. Sempre que a BM “some” das ruas esse tipo de coisa acontece. Quem não lembra da onda de assaltos a restaurantes em 2006? Ou dos assaltos a bancos em 2007? 

Naqueles períodos a falta de rondas ostensivas, barreiras e operações de revistas em ônibus, bairros e casas noturnas deixaram os bandidos à vontade para agir por toda a cidade.

Certa vez um comandante do 4º BPM me confidenciou (em off) que nos dias após finais de semana com jogos de futebol na cidade, o efetivo policial nas ruas de Pelotas ficava reduzido a apenas 40%, devido a necessidade de dar folga tanto aos PMs que trabalhavam no sábado e no domingo, quanto aqueles escalados para a segurança nos estádios.

Atualmente não se vê a BM nas ruas da cidade. Onde além do calçadão se encontram policiais realizando patrulhas? Colocar PMs no centrão ajuda a criar uma falsa sensação de segurança e passar a ideia de que a polícia está na rua, quando na verdade não está em lugar algum além dali.

Os comandantes da BM evitam revelar o efetivo lotado no 4º BPM, justificam isso como “uma questão estratégica”, mas a única estratégia que vejo nisso é a de enganar a população fazendo parecer que a cidade está lotada de policiais, quando na verdade está completamente desguarnecida.

A coragem da bandidagem em atacar qualquer lugar, em qualquer horário, mostra que a estratégia de esconder números já está manjada e que a bandidagem já percebeu sabe o que todo cidadão comum sabe há tempos: não há policiais suficientes para proteger Pelotas. 

Resta saber como a BM lidará com isso.