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terça-feira, 29 de março de 2011

O Brasil ficou sem patrão

Em 2003 o "patrão" ainda tinha bigode e cara de mau

A funesta – mas necessária - tarefa de reeditar e publicar um obituário feito meses (ou talvez anos atrás) foi parte da rotina em redações de norte a sul do Brasil nesta terça-feira com a morte do ex-vice-presidente José Alencar (1931-2011).

Desde a confirmação de sua morte no início da tarde, li dezenas de artigos e retrospectivas de sua vida publicados em sites de todos os tipos e cantos. Mas uma coisa, em particular, me chamou a atenção: nenhum dos obituários feitos ou requentados lembrou que, em 2002, antes de ser escolhido para integrar a chapa ao lado de Lula o então senador José Alencar se apresentava à população como “o patrão que o Brasil precisa”.

Eu ainda lembro da propaganda do Partido Liberal (PL) com imagens e dados das fábricas e trabalhadores do grupo Coteminas (uma das maiores indústrias têxteis do mundo, pertencente a Alencar), tido como exemplo na relação empregador-trabalhador e que terminava com um José Alencar de capacete de operário e sorridente enquanto o locutor anunciava com voz empostada: “José Alencar. É o patrão que o Brasil precisa”.

O sujeito não queria ser presidente, queria ser o patrão do país! No mínimo irônico para quem acabou sendo o vice de um operário.

Mas fazer o quê? Os obituaristas (alguns jornais ainda os mantém, sim!!) preferiram não lembrar disso, afinal de contas o que interessa é a luta de Alencar contra o câncer, sua participação quase nula nos dois governos do Presidente Lula e blá, blá. blá...

segunda-feira, 28 de março de 2011

Receita básica para (pelo menos) uma refeição saudável

Atendendo a pedidos aqui vai mais uma receita especial. Essa é dedicada para aqueles que querem impressionar a namorada ligada em comida saudável ou mostrar para a esposa que estão levando a sério essa coisa de controlar a gordura, colesterol e outras chatices inventadas pelos médicos para nos proibir de comer tudo o que é, realmente muito bom.

Chega de lero-lero e vamos a ela, com vocês:

Filé de frango e macarrão ao creme de cenoura
(se quiser enfeitar ataca de filé de pulet avec pattés à la crème de carrottes)

Deu de frescura, vamos cozinhar:

Ingredientes
500 gramas de filé de peito de frango
5 cenouras grandes
250 gramas de macarrão (a gosto do freguês)
50 ml de molho shoyu
2 dentes de alho picados
1 cebola picada
Sal
Azeite

Preparo
Coloque as cenouras para cozinhar (descascadas, de preferência) cortadas em rodelas em uma panela com água e sal. Enquanto isso tempere os filés com sal e um dente de alho picado. Em outra panela refogue no azeite a cebola e o outro dente de alho e reserve.

Quando a cenoura estiver bem cozida (quase desmanchando) tire e jogue para o liquidificador com parte da água usada no cozimento. Junte o refogado de cebola + alho e o molho shoyu e bata tudo até ganhar a consistência de creme. Reserve.

Cozinhe a massa de sua preferência em água fervente com sal e um pouco de azeite.

Frite os filés até ficarem dourados de um lado, vire e deixe fritar até estarem prontos.

Quando a massa estiver pronta, misture com o creme de cenouras e sirva acompanhando os filés.

Feito!

(*) Depois me digam o que acharam.

O assessor de imprensa não é o inimigo

Fazer a informação chegar rápido às redações é papel da assessoria

Desde que troquei as redações pela assessoria de imprensa passei a ponderar mais sobre essa função e, especialmente, as relações entre jornalistas de redações e jornalistas de assessorias de imprensa. 

A partir disso tornei-me um leitor mais atento do material publicado sobre o assunto e o que tenho visto me chama atenção, principalmente, pelo fato de ver que em alguns mercados ainda persiste a ideia de que jornalistas são aqueles que trabalham nas redações, enquanto os outros são “apenas” assessores de imprensa.

Classificar e tratar assessores de imprensa como jornalistas de segunda classe é, a meu ver, no mínimo uma grande injustiça e estabelecer a existência de um campo de batalhas imaginário no qual as redações estão em uma trincheira e as assessorias em outra, então, soa como uma grande estupidez profissional.

A própria nomenclatura da função – assessor de imprensa - é capaz de explicar a real finalidade destes profissionais: “assessor: aquele que dá assistência a outrem, assistente (Dicionário Larrousse Cultural)”. Ou seja, o assessor de imprensa é quem auxilia, ajuda a imprensa e não um adversário decidido a se infiltrar nas linhas inimigas disposto a conquistar qualquer centímetro ou segundo de divulgação a qualquer preço.

A partir dessa definição - e das experiências acumuladas nos últimos dois anos – me obrigo a concluir que o problema está no fato de muitos jornalistas de redação não saberem se relacionar com os jornalistas das assessorias e, o pior, de que ainda existe no mercado um ultrapassado preconceito com relação aos assessores de imprensa.

De toda forma me arrisco, aqui, a enumerar algumas observações que acredito podem pelo menos suscitar a discussão sobre isso:

1)      Todos somos jornalistas, seja na redação ou na assessoria;
2)      Ter responsabilidade com a informação divulgada é obrigação de todo o jornalista, seja assessor ou não;
3)      Checar todas as informações a serem divulgadas é inerente à profissão e isso deve ser feito não importa se você trabalha na redação ou na assessoria;
4)      O release não é propaganda disfarçada, mas um texto jornalístico que não foi feito na redação;
5)      Assessores não se ofendem quando os colegas de redação ligam para esclarecer detalhes ou informações dos releases, pois servem exatamente para isso: auxiliar, ajudar;
6)      O assessor não é um obstáculo a atuação dos jornalistas de redação, muito pelo contrário, é um facilitador, o cara que irá aproximar a fonte e os interessados na informação;

Por hora é isso, se alguém quiser engrossar o caldo dessa discussão, sinta-se à vontade!

domingo, 27 de março de 2011

O mal do "editor-foca"

Editores como J.J. Jameson fazem falta na vida real

Nos últimos dias lendo os jornais e pensando no porquê de tantas matérias ruins ocupando espaços preciosos elaborei uma teoria que batizei de “Mal do Editor-Foca”.

Por essa teoria elaborada sem qualquer metodologia, baseada somente na observação e em minha própria experiência de 12 anos dedicados ao jornalismo diário não existe repórter ruim, mas sim editores inexperientes, omissos ou, simplesmente, incompetentes.

Ao longo de minha vida em redações passei pelas mãos de oito editores-chefe (não contabilizo aqui os editores de área que eventualmente coordenavam meu trabalho como correspondente em pautas específicas) e deste total, conclui que apenas um não acrescentou nada em minha vida profissional, não me ajudou a melhorar ou evoluir como jornalista, ou seja, foi uma nulidade total.

Rememorando tudo o que aprendi com os outros sete editores e comparando com que vejo diariamente nos jornais, conclui que algumas redações estão sob comando de gente sem preparo, inexperiente, que talvez jamais tenha ficado encharcado durante a cobertura de uma enchente, ou com a bunda quadrada após horas e horas de viagem por estradas esburacadas atrás de uma boa história ou ainda nunca tenha enfrentado uma cobertura daquelas que começa ao raiar do dia e termina a altas horas da madrugada.

O que percebo são redações comandadas por burocratas mais preocupados com tempo de produção, custos e embalagem, do que com o conteúdo do produto final. São na verdade jornalistas que pouco ou nunca exerceram a função de repórter em sua plenitude e, assim, são incapazes de reconhecer uma boa matéria ou orientar seus repórteres a produzi-las. São editores que não editam, não mandam refazer, aceitam o que for apresentado em nome do fechamento rápido e eficiente.

E quem perde com isso? Em primeiro lugar os leitores. Depois os jovens jornalistas - a cada ano desembarcam centenas no mercado - que sob a batuta de seus “editores-focas” simplesmente ficarão profissionalmente estagnados, mediocrizados.

É por essas e outras que nos últimos tempos quando ouço ou leio que os jornais impressos estão fadados a extinção, apesar de lamentar, acredito. 

sexta-feira, 4 de março de 2011

MOLÓIDES 1 X O BAGÉ

Seu eu ainda fosse repórter de jornal e estivesse pautado para cobrir o jogo Farroupilha x Bagé (4/3) pela segunda rodada da Segundona Gaúcha, seria assim minha matéria:

Molóides 1 x 0 Bagé
Presidente perde a paciência com a falta de empenho do time

Nem mesmo a reconhecida fleuma de cavalheiro britânico do presidente do Farroupilha, coronel Ewaldo Poeta resistiu aos 90 minutos da partida disputada na tarde de ontem contra o Grêmio Bagé, no estádio Nicolau Fico, em Pelotas.

_ São uns molóides, um bando de molóides! _ esbravejou Poeta em meio aos torcedores do Pavilhão Social diante da falta de dedicação do time ao final do segundo tempo.

A indignação presidencial, motivada pela inércia do time diante da pressão estabelecida pelo Bagé nos 45 minutos finais e pela incapacidade do ataque em organizar pelo menos uma jogada de perigo real ao gol adversário, também serviu de resposta a conformidade de parte da torcida diante da falta de criatividade e técnica da equipe.

_ Isso mesmo! Bola prá cima não tem perigo de gol! _ gritava um gaiato nas sociais diante do show de chutões promovido pela zaga e pelos volantes do tricolor.

Em campo, o único que realmente parecia se importar em mudar a situação era o treinador Bebeto Rosa. 
Aos berros tentou de todas as formas se fazer ouvido pela equipe e no auge do desespero apelou aos maqueiros para passar informações de posicionamento ao meia Max. A tática não funcionou.

Também não deu certo a troca do exausto camisa 10, Manga, pelo atacante Tiago Boiadeiro aos 5 minutos do segundo tempo. Dessa forma as bolas jogadas para fora do estádio pelo veterano zagueiro Aládio e as desorientadas chegadas a frente orquestradas pelo lateral Bruno formaram o repertório principal do Fantasma na etapa decisiva do jogo. Diante da falta de ofensividade Poeta voltou a reclamar:

_ Bebeto! O Alfinete tem que trabalhar! Ele tá parado _ bradou para o treinador que respondeu ao puxão de orelhas público substituindo Alfinete por Alex instantes depois.

Resignado – e, talvez, consciente da má atuação – o jogador passou reto pelo banco de reservas rumo ao vestiário. O grandalhão Alex nada acrescentou ao time, a não ser perder, no finalzinho do jogo, a única chance clara de gol criada desde os 20 minutos do primeiro tempo.

Ao final do jogo, ao menos uma coisa salvou o dia para os torcedores tricolores: o golaço marcado pelo atacante Jonas que a um minuto do primeiro tempo deu um chute da intermediária e colocou a bola no ângulo do goleiro Fernando Costa garantindo os 3 pontos que alçaram o Fantasma do Fragata da lanterna para a 5ª colocação na Chave 1.


Na próxima quinta-feira, o Farrapo tem o clássico contra o líder Brasil no Nicolau Fico. Mais uma pedra a ser quebrada na pedreira da Segundona Gaúcha.

A impagável Segundona Gaúcha

Veterano Magna (dir) ainda desperta emoções no Fragata

Impagável. Esta é a palavra que melhor resume a chance de assistir a um dos clássicos da Segundona. Na tarde ensolarada e ociosa da sexta-feira (3/3) fui ao estádio Nicolau Fico para ver Farroupilha (1) x (0) Bagé. Voltei para casa de alma leve (e completamente rouco).

Do pavilhão social vi o atacante Jonas – qualquer semelhança com o goleador do último Brasileirão é apenas mera coincidência – marcar um golaço logo ao primeiro minuto de jogo e, em seguida, colocar uma bola no travessão. E, foi só.

_ Isso mesmo! Bola prá cima não tem perigo de gol _, justificou um dos meus companheiros de torcida diante do festival de bagos para todos os lados.

Assistir a uma partida de futebol em um estádio acanhado como o Nicolau Fico é maravilhoso, pois distante apenas cinco metros do campo a torcida se faz ouvir por treinadores, juiz, bandeirinhas e jogadores. E aí todo o drama ganha contornos cômicos.

_ Bota correria prá cima deles Manga! _ grita um torcedor para o veterano, pesado e exausto meio campo que sofre para chegar até a bola.

_ Bebeto! Bebeto! Coloca o Boiadeiro! Coloca o Boiadeiro prá correr! _ grita outro para o treinador, que imediatamente atende e faz a alteração solicitada.

Quando os maqueiros entram em campo e, ao invés de carregarem o jogador lesionado chamam o centroavante de lado e repassam informações do treinador é impossível ficar indiferente. O mesmo acontece quando o presidente do clube da casa, desesperado com a falta de aplicação de seus jogadores lasca em alto e bom tom em meio a torcida:

_ São uns molóides! Um bando de molóides!

E logo em seguida, ainda cercado de torcedores dá um puxão de orelhas no treinador:

_ Bebeto! Bebeto! O Alfinete tem que trabalhar! O Alfinete tem que trabalhar! Ele tá parado! _ grita para o treinador, que com um gesto demonstra ter entendido o recado e instantes depois substitui o jogador.

Ao final da partida enquanto o grosso da torcida sai do estádio com uma sensação de alívio pela vitória apertada, mas merecida, o treinador – ainda no campo – interrompe a entrevista a uma rádio para cumprimentar o torcedor símbolo do time e justifica:

_ Desculpa pessoal, mas tenho que ir porque vou de carona com ele prá Rio Grande _

Sensacional!

Essa é a Segundona Gaúcha: presidente achacando o próprio time que montou, torcedor dando carona para treinador, jogo ameaçado de ser interrompido por falta de bolas, ingressos a R$ 10 e, o melhor, a torcida voltando para casa com a certeza absoluta de ter sido o 12º jogador.


Por essas e outras esse é, com toda certeza, o melhor campeonato do mundo.