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segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Uruguaiana - Uma invenção farroupilha (2007)



Pouca gente sabe, mas Uruguaiana foi fundada pelos farroupilhas
tendo por base a planta de Pelotas

Sentado a sombra de Domingos José de Almeida na incomum tarde quente e ensolarada de agosto, Solón Melo da Luz observa os carros que cortam apressados a avenida Getúlio Vargas em direção ao centro de Uruguaiana. Com fala mansa e pausada, o acabrunhado peão de 62 anos, crescido entre ovelhas e cavalos crioulos não titubeia ao ser questionado sobre quem é a figura esculpida em bronze que lhe protege do sol: "Domingos de Almeida...ele andava com os farrapos e fundou esta cidade."

A história que chegou até Solón é verdade e teve início no verão de 1843, quando o então todo poderoso ministro da Fazenda da República Rio-grandense, José Domingos de Almeida determinou a criação de uma povoação civil-militar na fronteira com a Argentina, mais precisamente no Capão do Tigre, as margens do rio Uruguai. "A República Rio-grandense precisava de um ponto comercial com a Argentina e o Uruguai e o rio possibilitaria isso", explica a historiadora Marilene Ribeiro, professora da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul em Uruguaiana (PUC-RS/Uruguaiana).

Pelas contas do advogado e pesquisador Luis Stábile, quando o presidente Bento Gonçalves da Silva assinou o decreto nº 21 em 24 de fevereiro daquele ano, já viviam por ali aproximadamente 200 pessoas espalhadas por um conjunto de ranchos na localidade conhecida por Santana Velha, as margens do arroio Quaraí.

Os primeiros habitantes da cidade criada pelos farrapos eram bugres, gaúchos argentinos e uruguaios que sobreviviam da compra e venda de gado, em um lugar que era tanto uma passagem obrigatória de tropeiros e como um incipiente entreposto comercial.

De olho comprido nos benefícios que poderiam ser colhidos a partir da dominação de um estratégico ponto comercial fronteiriço e diante da obrigação de controlar o contrabando de gado, que minava a combalida economia republicana, os líderes farroupilhas fixaram tropas naquele ponto extremo do pampa rio-grandense e demarcaram as áreas por onde, hoje, passam ruas como a arborizada Domingos de Almeida ou a larga Presidente Vargas, onde o melancólico Solón vê a tarde passar, enquanto espera pela carona que tarda a chegar.


PELOTAS E URUGUAIANA: IRMÃS "QUASE" GÊMEAS

Como traçar uma cidade a partir do nada não é tarefa fácil, Domingos de Almeida optou por seguir um modelo bem conhecido seu para "desenhar" a única cidade erguida pelos farrapos durante os nove anos de existência da República Rio-grandense: o de Pelotas.

A partir disso, Uruguaiana foi traçada com ruas retas, que a cortam de norte a sul e de leste a oeste e com orientação solar norte-sul. Como podia melhorar o que já conhecia, o ministro-"arquiteto" alargou as medidas das ruas e planejou a nova cidade com calçadas de seis metros de largura e ruas de, no mínimo, oito metros de uma calçada a outra. O resultado disso é que, hoje, apesar de seus 116,1 mil habitantes Uruguaiana é uma cidade espaçosa, onde o trânsito flui fácil e as calçadas nunca parecem cheias demais.

"Tivemos sorte de Domingos de Almeida ter desenhado a cidade", admite Tonico Fagundes, atual secretário municipal de Cultura e orgulhoso descendente do juiz de paz Teodolindo Fagundes, encarregado por Domingos de Almeida de escolher o local para a instalação da futura cidade de Uruguaiana.


"PAI" DESNATURADO

A tradição oral passada de geração para geração diz que embora tenha sugerido e planejado a criação de Uruguaiana, o ministro Domingos de Almeida jamais colocou os pés na cidade.

Na época em que a decisão foi tomada a capital da República Rio-grandense, estava baseada em Alegrete (distante 140 quilômetros) e, o futuro povoado estava incluído no 2º distrito da capital farrapa e foi da capital que partiu a ordem para o juiz Fagundes escolher o local onde seria erguido o povoado.

O fato do ministro não ter conhecido o lugar escolhido parece não ter diminuido seu otimismo com relação a decisão. "O local oferece uma excelente posição militar que para o futuro poderá fazer grande peso na balança política e comercial com nossos vizinhos", escreveu ao presidente e general Bento Gonçalves da Silva.

Antes do final daquele ano, no entanto, Domingos de Almeida se afasta do governo e da República em meio a uma violenta crise institucional incendiada por acusações de corrupção movidas pelo Ministro da Guerra, Antônio Vicente da Fontoura. A partir daí, Almeida se fixaria em Pelotas onde permanece até sua morte em em 6 de maio de 1871.

Não ter conhecido a "filha" que fez nascer na fronteira, não impediu, todavia, que Domingos de Almeida fosse homenageado pela comunidade de Uruguaiana, que atribuiu seu nome a uma rua, uma escola estadual e ergueu-lhe uma estátua na principal entrada da cidade.

Memórias de guerra

Criada a menos de dois anos do final da Revolução Farroupilha, Uruguaiana, guarda poucas lembranças da maior guerra civil travada em solo brasileiro. A história da cidade, no entanto, está intimamente ligada aquela que foi o mais violento conflito bélico da América do Sul: a Guerra do Paraguai (1864-1870).

Em 5 de agosto de 1865, a cidade foi invadida por um exército de 6,8 mil homens comandados pelo tenente-coronel Antônio de la Cruz Estigarribia. A ocupação paraguaia dura exatos 44 dias, até que na tarde do dia 18 de setembro, Estigarribia se rende na presença do Imperador do Brasil, D. Pedro II e dos presidente da Argentina, general Bartolomé Mitre e do Uruguai, general Venâncio Flores.

O episódio da Retomada de Uruguaiana que é celebrado até hoje, com pompa e circustância, curiosamente, sempre durante as celebrações da Semana Farroupilha encerrou a primeira fase da guerra e marcou o início da derrocada do Paraguai frente as tropas da Tríplice Aliança (Brasil, Uruguai e Argentina).

A "filha dos Farrapos" é adotada pelo Império

A localização estratégica escolhida por Domingos de Almeida para instalar a porta da República Rio-grandense para o comércio com os países do Prata, foi o salvo-conduto de Uruguaiana rumo ao desenvolvimento.

Ao contrário do que ocorreu em Piratini - a primeira capital farroupilha - o governo imperial brasileiro poupou a "filha" dos farrapos de retaliações após a assinatura do Tratado de Ponche Verde (25 de fevereiro de 1845), que pôs um ponto final na grande guerra do sul. Instalada às margens do rio Uruguai a localidade recebeu investimentos do Império que, ironicamente, transformou-lhe exatamente naquilo em que Domingos de Almeida havia sonhado: um importante entreposto comercial entre Brasil, Argentina e Uruguai.

Pouco mais de um ano após o fim da Revolução Farroupilha o povoado é elevado por decreto imperial à categoria de vila. A data, 29 de maio de 1846, é até hoje a utilizada para contar e celebrar os aniversários da cidade. "Em fevereiro, por causa das férias sempre há pouca gente na cidade, então optaram pelas comemorações em maio, quando é possível envolver toda a população", tenta justificar o pesquisador Luiz Stábile.

Raízes da tradição

Aos 12 anos, a sorridente Caroline Castro, enverga vaidosa a faixa de terceira prenda mirim do Centro de Tradições Gaúchas (CTG), Sinuelo do Pago, mas não esconde que seu maior orgulho são os 23 troféus obtidos em provas campeiras, que disputa desde os tenros três anos de idade. O apego de Caroline as lidas do campo e as provas que as reproduzem servem de testemunho da principal herança deixada pelos farrapos aos filhos de Uruguaiana: a paixão pela tradição gaúcha.

Os números da 4ª Região Tradicionalista (RT) mostram que existem, hoje, na cidade nada menos do que nove CTGs e 30 piquetes registrados, enquanto as contas dos patrões das principais entidades falam em 60% dos 116,1 mil moradores envolvidos diretamente com movimentos ou entidades de preservação da cultura nativa.

BERÇOS DE TRADIÇÃO

Em uma das mesas do Grêmio Tiradentes - antes da abertura do torneio semi-final de truco da Semana Farroupilha de 2007 - durante uma conversa franca alguns líderes tradicionalistas tentam explicar a paixão quase incondicional dos uruguaianenses pelo nativismo. "O culto as tradições gaúchas, por aqui, é anterior ao Paixão Côrtes", sentencia o contador Luis Ernesto Iglesias dos Santos, de 55 anos, presidente da comissão organizadora da Semana Farroupilha de 2007, em uma alusão ao folclorista João Carlos Paixão Côrtes, que a partir de 1947 deu início ao Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG). "Nossos antepassados guardaram estas fronteiras e isto ajudou a criar um amor por esta terra e tudo o que se refere a ela", acrescenta  Enar Rivero, 53 anos, Patrão do Sinuelo do Pago.

Chamado a opinar na conversa, o até então silencioso Edgar Mota Fagundes, de 69 anos, escolhido como o Gaúcho do Ano apruma-se e com a fala dura e grave característica dos fronteiriços dispara aquela que parece ser a sentença definitiva da discussão: "este culto herdamos do caráter dos farrapos, de sua capacidade de amar a terra, de seus ideais libertários, é isso que nos torna tão apegados as tradições do Rio Grande."

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Nasce uma república em pleno pampa



Na tela de Antonio Parreiras (1915), Neto aparece a cavalo, mas a proclamação foi feita de pé
no meio da tropa acampada nos campos de Selval, hoje, um distrito de Candiota


Uma baioneta, um cano de pistola e um espadim fazem parte do acervo particular que o pecuarista Heitor Ferreira, 47 anos, juntou ao escavocar os campos do interior do município de Candiota, na região da Campanha. O homem que hoje investe na criação do Núcleo de Pesquisa Histórica do Seival é também o principal detentor da memória do lugar, onde em 11 de setembro de 1836 nasceu um país: a República Rio-grandense.

Morador da vila que em 1936 incorporou o nome dado aos campos vizinhos pelo desbravadores espanhóis, que no século 16 encontraram por ali muitos pés de seibo - daí a expressão seibal, aportuguesada para seival - Ferreira é uma espécie de referência local quando o assunto é o enfrentamento das tropas de Antônio de Souza Neto e João da Silva Tavares, em 10 de setembro de 1836. Há anos, o pesquisador busca o local exato da peleia onde tombaram 26 farrapos e 167 imperiais e que precedeu a proclamação da independência do Rio Grande do Sul do resto do Brasil.

Encontrar o lugar significa descobrir os restos mortais de 185 combatentes daquele dia que foram sepultados no campo de combate. Grande parte deles eram filhos da casta mais alta da sociedade do município de Herval, que lutava ao lado de Silva Tavares. “Quarenta e três anos depois, na degola do rio Negro, comandada por Joca Tavares (filho de Silva Tavares) há um ajuste de contas deste combate, quando a maior parte dos degolados descendia diretamente dos vitoriosos em Seival”, defende o historiador Cláudio Moreira Bento.

Sorte Farrapa

Na manhã de 10 de setembro de 1836, Neto estava à frente de uma força de 430 homens quando encontrou-se com os 500 imperiais liderados por Silva Tavares em meio as coxilhas do Seival, próximo as margens do rio Jaguarão, nos campos que hoje ficam na margem direita da BR 293 no sentido Bagé-Pelotas.

Às 9h, as carabinas fizeram estremecer céu e terra em uma salva de tiros. Logo em seguida aos gritos Neto avisou: “Camaradas! Não quero ouvir um tiro mais. À carga, a espada, e lança!”. Em seguida a cavalhada farroupilha atirou-se ao galope em direção a cavalaria imperial que já corria pelo campo. O encontro das tropas deu origem a um carrossel de homens e cavalos, que girava ao som do choque de metal e dos gritos lancinantes dos feridos.

Em meio ao balé mortal, a sorte sorriu aos farrapos. “Tavares estava em vantagem e teria vencido, não fosse uma lança ter cortado os arreios de seu cavalo, que partiu em disparada fazendo seus homens pensarem que batia em retirada e se desorganizassem”, conta Ferreira. Quando Tavares retornou e a tropa se reorganizou, era tarde demais e não havia outra alternativa ao oficial do Império a não ser se retirar do combate. O dia, definitivamente era farroupilha.

“Independência, República, liberdade ou morte”

A retumbante vitória farroupilha serviu de pano de fundo para o evento que mudaria não apenas os rumos da revolução, mas também do jovem Império do Brasil: a proclamação da República Rio-grandense.

Antes da alvorada de 11 de setembro de 1836, depois de uma noite insone Neto postou-se no centro do quadrado formado por sua tropa para escutar a leitura da ordem de serviço escrita durante a longa noite anterior em conjunto com Joaquim Pedro Soares e Manuel Lucas de Oliveira, emissários de Domingos José de Almeida chegados a Seival pouco depois de encerrado combate.

O texto lido por Joaquim Pedro naquela madrugada, às margens do rio Jaguarão, fazia duras críticas ao governo imperial e declarava independente do Brasil a província do Rio Grande do Sul. “Em todos os ângulos da Província não soa outro eco que o de independência, república, liberdade ou morte!”, leu Joaquim Pedro na carta assinada por Neto. Terminada a leitura, a tropa irrompeu em sonoros vivas a recém-nascida república Rio-grandense.

Para os historiadores contemporâneos os ecos daquela histórica leitura perduraram além da derrocada da República Rio-grandense e foram sentidos por toda a nação 53 anos depois. “A república brasileira nasceu no Seival, não há dúvida disso, existem evidências concretas de que o marechal Deodoro da Fonseca sofreu influência direta dos ideais farroupilhas”, defende Cláudio Moreira Bento.

Seival é a salvação de Seival 

O resgate da história do combate do Seival e a localização correta dos eventos que ali ocorreram naquele final de inverno de 1836, são vistos com a principal e, talvez, única tábua de salvação do povoado que teve o nome eternizado nos livros sobre a história da Revolução Farroupilha.

Depois de experimentar um período de grande opulência e desenvolvimento a vila do Seival é hoje um lugarejo pobre e decadente, formado por ruínas de um tempo que hoje faz parte apenas da memória dos moradores mais antigos.

Fundado em 1844 então como o nome de Santa Rosa, a povoação estava no caminho da estrada de ferro, possuía uma filial do Banco Pelotense e era um próspero entreposto comercial e de produção de charque. A quebra do Banco Pelotense e a desativação da linha férrea na segunda metade do século 20 fizeram a localidade mergulhar no ostracismo.

Hoje, o turismo cultural baseado na exploração dos acontecimentos de 1836 surge como a principal esperança para fazer renascer a economia local. Mas para tornar isso possível é preciso, primeiro, encontrar os lugares corretos onde tudo se deu.

Atualmente, os dois monumentos instalados na década de 1980 com o objetivo de lembrar os episódios da Revolução Farroupilha estão muito distantes dos locais onde os fatos a que se referem aconteceram.

Por praticidade foram colocados às margens da rodovia que liga Bagé a Pelotas. O monumento que celebra a proclamação da República Rio-grandense, por exemplo, está aproximadamente oito quilômetros distante de onde Neto e suas tropas acamparam. Já o Arco do Triunfo - no local exato onde Joaquim Pedro fez a leitura histórica - erguido pela prefeitura de Bagé para marcar o centenário da proclamação desapareceu.

“Encontrar os sítios exatos possibilitará tanto a exploração arqueológica e histórica como a turística”, defende Heitor Ferreira, que revela estar perto de encontrar algumas respostas capazes de resgatar o passado e mudar o futuro do Seival.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

A Dama de Ferro e a valorização do pensar


Dias atrás assisti a Dama de Ferro (FRA,GBR, 2011), filme sobre a ex-primeira ministra inglesa Margaret Thatcher, celebrizada mundialmente com o apelido de Dama de Ferro (The Iron Lady).

Mais do que um excelente filme sobre uma estadista, que marcou sua época por ser uma das percussoras do nefasto neoliberalismo, a película dirigida pela inglesa Phyllida Lloyd (nascida no célebre 17 de junho) mostra um lado pessoal e extremamente particular dessa mulher - que ordenou o massacre de 323 jovens argentinos ao determinar o afundamento do cruzador General Belgrano durante a malfadada guerra pela posse das Malvinas – e que termina sua vida mergulhada em uma das mais cruéis doenças, o Mal de Alzheimer.  

Muito além da soberba atuação de Meryl Streep, o filme contém cenas impagáveis capazes de nos fazer pensar sobre o mundo construído a partir dos anos 80. Uma que, particularmente, me chamou atenção é aquela na qual a ex-primeira ministra - já atormentada pela doença – consulta um médico e fala de sua impressão sobre o mundo atual.

Em um diálogo curto, a personagem de Meryl Streep revela sua inconformidade com o mundo que percebe à sua volta apesar da doença. “As pessoas estão mais preocupadas em sentir. Sou de um tempo no qual as ideias eram o mais importante que os sentimentos”, diz Thatcher.
Concordando ou não com suas políticas nefastas, é impossível discordar de Thatcher, quando lamenta a falta de importância dada na atualidade para as ideias, para o pensar, em favorecimento do sentir. Ao menos na trama imaginada pela roteirista inglesa Abi Morgan, a Dama de Ferro está recheada de razão.

Muito além de Thick as brick

Capa de Thick as Brick imitou tablóides ingleses e gerou a lenda de que
a música teria sido escrita por um garoto

“Eu posso fazer você sentir, mas não posso fazê-lo pensar”, este verso foi escrito no início dos anos 70 por Ian Anderson, vocalista e líder do Jethro Tull e abre a primeira estrofe do clássico álbum Thick as brick (espesso como um tijolo), lançado em 1971 e o quinto da banda britânica.

 Mais do que um verso de uma obra prima do rock mundial, a frase me soa como um aviso inaudível para a maior parte das pessoas neste famigerado século XXI, no qual as ideias estão relegadas a um plano de endereço incerto e não sabido e, onde velhos ideais e ideologias são rotineiramente maquiados e reapresentados como grandes novidades diante de uma plateia incapaz de formular suas próprias conclusões ou soluções, por estar demasiadamente preocupada com o sentir.

Ao passar os olhos pelas páginas dos jornais do dia ou assistir os telejornais acéfalos das grandes emissoras fica óbvio que a maior parte de meus contemporâneos está mais preocupada com temas de “extrema importância” como a forma física, a alimentação saudável, a boa aparência, o viver mais, o estar na moda, ou seja, obcecada pela busca da felicidade e da realização individual. Esse pensamento médio e medíocre dá forma a uma constatação assustadora: estamos desaprendendo a pensar no coletivo, no todo.

O homem, animal que conseguiu se sobrepor a todas demais espécies graças a seu instinto coletivo, é hoje um ser individualista e, a partir disso vulnerável. Como sociedade essa vulnerabilidade reside no fato de que a cada dia se reduz a quantidade daqueles que dominam o conhecimento e, portanto, se sentem capazes de pensar e formular soluções para nossos problemas reais e alternativas para nosso futuro e nossa própria existência. Ou seja, se está entregando - em bandeja de prata - a um número reduzido de pessoas (nem sempre confiáveis) o direito de determinar os caminhos de toda humanidade.

Há mais de 40 anos, o mesmo autor da frase inicial deste texto escreveu: “Vamos lá, heróis da infância! Não vão se levantar das páginas de seus quadrinhos, seus super velhacos? E nos mostrar o caminho?”. E é assim que imagino a maior parte das pessoas deste século: olhando para a tevê esperando que dali saia o homem ou a mulher, que como um super herói irá livrá-los de toda e qualquer desgraça para que possam seguir com sua busca pela felicidade, afinal de contas salvar o mundo dá trabalho, pensar nos outros é perda de tempo e, no final das contas, o que importa é “que estou feliz comigo mesmo”.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Youtube: muito além do besteirol


Mais do que um veiculador do besteirol amador que abarrota a internet a partir da inclusão digital cada vez maior e mais global, o Youtube pode ser também uma grande fonte de informação e revirar seus arquivos pode render horas e mais horas de entretenimento inteligente e, igualmente divertido.

Nos últimos dias assisti a dois documentários com temas completamente diferentes, mas igualmente muito interessantes.

O primeiro é AC/DC – Por trás da fama exibido originalmente no Multishow HD e disponível desde abril no Youtube. O documentário apresenta um mergulho profundo nas origens, influências e história desta que é a mais autêntica banda de rock and roll do planeta. Recheado de entrevistas e imagens de shows e bastidores, o filme de 70 minutos é informação pura para roqueiros de todas as gerações e, mais ainda, para os fãs do AC/DC.

O outro documentário é uma reflexão sobre o mundo no qual vivemos, a vida que levamos e como isso tudo poderia ser muito diferente. Trata-se de Reação em Cadeia - O Mundo sem Petróleo produzido e apresentado originalmente pelo National Geographic. Na mesma linha da série O Mundo sem Ninguém também produzido pelo NatGeo, o filme de 47 minutos tenta construir o futuro da humanidade sem o combustível que move o mundo. É um exercício de imaginação surpreendente e chocante. Ótimo para colocar os pés no chão e pensar com um pouco mais de cuidado sobre o mundo que queremos deixar para nossos netos. (Detalhe: as legendas são em português de Portugal, mas isso não atrapalha em nada a compreensão do filme).

Aos interessados segue abaixo os dois documentários. Boa diversão!

AC/DC - Por trás da fama
 O mundo sem petróleo

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Quem realmente é novidade na política de Pelotas?


Pelotas parece estar prestes a experimentar uma campanha eleitoral marcada por um embate entre quem diz representar o “novo” versus nomes consagrados na política da cidade. O mais curioso, todavia, é a quantidade de gente que disputa o rótulo de novidade.

A essa altura do campeonato - faltando menos de um mês para a definição dos candidatos a prefeito – a briga para ser reconhecido como o “novo nome” ou a “terceira via” me parece muito mais interessante do que a montagem das chapas que devem concorrer a principal cadeira do Paço Municipal.

Com uma olhada mais atenta ao cenário eleitoral e as notícias (cada vez mais constantes) sobre a pré-campanha descobre-se haver pelo menos sete candidatos disputando o cobiçado rótulo: Fabrício Tavares (PTB), Catarina Paladini (PSB), Eduardo Leite (PSDB), Paula Schild Mascarenhas (PPS), Paulo César (PV), Reginaldo Bacci (PCdoB) e Eduardo Macluf (PP).

Mas será que todos eles realmente podem almejar receber o selo de “cara nova” nestas eleições?

Buenas, vamos aos fatos:

Fato 1: Entre os sete pretendentes, apenas o comunista Reginaldo Bacci nunca ocupou um cargo público e, afora os 193 votos obtidos em 1988 quando disputou uma vaga para a Câmara de Vereadores com uma campanha baseada no slogan “Reginaldo Eu Te Amo!” pichado a esmo em muros e paredes da cidade, teve pouca ou nenhuma participação na vida política da cidade nos últimos 20 anos.

Fato 2: A popular socialista Paula Schild Mascarenhas tem como principal marca de seu currículo político ter sido assessora parlamentar e chefe de gabinete do falecido deputado estadual e prefeito, Bernardo de Souza. Ela nunca concorreu a cargos eletivos.

Fato 3: Paulo César Gonçalves, o candidato dos verdes, já foi coordenador de feiras livres e secretário-adjunto de Serviços Urbanos da atual administração. Hoje está lotado na Secretaria Municipal de Educação e responsável pelas finanças, compras e licitações da secretaria. Ele nunca concorreu a cargos eletivos.

Fato 4: Fabrício Tavares/PTB é o atual vice-prefeito eleito com 65.109 votos juntamente com o atual prefeito Fetter Júnior (PP). Na mesma eleição, o progressista Eduardo Macluf elegeu-se vereador com 5.470 votos, enquanto o social democrata Eduardo Leite foi eleito com 4.095 votos e o socialista Catarina Paladini - então no PCdoB, depois de ser suplente pelo PMDB - foi um dos mais votados com 6.722 votos, mas não levou a vaga por causa da coligação.   

Fato 5: Em 2010, Catarina Paladini foi eleito deputado estadual pelo PSB com 32.035 votos. Na mesma eleição Tavares fez 21.312 votos para deputado federal, enquanto Eduardo Leite fez 18.526 votos para deputado estadual.

A partir deste rápido resgate da vida pública dos sete candidatos ao posto de “novidade” das Eleições 2012 é possível concluir que somente Bacci e a dupla Paula e Paulo são ilustres desconhecidos dos eleitores pelotenses e, a partir disso, podem ser apontados como legítimos representantes do “novo” na política local. Afinal de contas indicar políticos com mandato e expressivas votações em eleições anteriores como “novidades” é, no mínimo, uma grande falácia.

Por esses e outros detalhes que começam a pipocar aqui e ali, arrisco dizer que esta eleição tem tudo para ser a mais interessante dos 200 anos de Pelotas. É esperar para ver. 

domingo, 22 de abril de 2012

Polícia: uma editoria obrigatória para os focas


Dos 12 anos que vivi o jornalismo diário, quatro estive completamente imerso no noticiário policial, enquanto nos outros oito atuei – pelo menos - como plantonista da área. E se tem uma coisa que hoje percebo é: a editoria de Polícia deveria ser parada obrigatória para todos os focas que colocam seus inseguros pés dentro de uma redação.

Essa impressão advém de alguns pontos básicos que integram a rotina diária de um repórter policial, como por exemplo, aprender que a notícia não tem hora para acontecer. Ao contrário da turma da Cultura ou do Esporte que trabalha basicamente em cima da apresentação e cobertura de eventos com horários pré-determinados (o que torna possível programar e organizar tanto a produção como o fechamento das matérias) o repórter de Polícia deve estar pronto para o trabalho a qualquer hora do dia, da noite ou da madrugada, pois o crime não tem hora para acontecer. Essa imprevisibilidade dota o sujeito de uma capacidade de produzir numa velocidade consideravelmente superior a maior parte da redação, exceção feita à turma do Geral, que pega tão pesado quanto na Polícia.

A necessidade de estar sempre preparado para levantar de sopetão da cadeira, pegar o bloco e sair – literalmente - correndo para chegar rápido a cena de um crime ou para acompanhar uma perseguição policial, ajustam o timing do jovem repórter e o ajudam a se acostumar com o ritmo acelerado do jornalismo diário. Isso sem falar que é ótimo para a gurizada ir se acostumando a controlar a adrenalina e, claro, a pressão arterial (o que deve ser uma constante na vida dentro da redação).

A rotina tanto do plantão de polícia, como das delegacias é outro ponto que colabora na formação do foca. A obrigação de analisar minuciosamente boletins de ocorrência em busca de informações para as matérias aguça a percepção sobre detalhes e a necessidade de checar cada informação obtida com investigadores e delegados desenvolve a capacidade de questionar e confrontar dados, tão necessária aos bons repórteres. Isso sem falar que o chá de banco nas antessalas de delegados ajuda a forjar a paciência necessária a qualquer jornalista.

Outro ponto crucial é a convivência nada agradável, mas essencial, com um elemento que volta e meia está presente no jornalismo diário: a morte. Com toda certeza não há repórter mais habituado a lidar com a morte em seu dia-a-dia que o repórter policial. Essa lida quase diária (no caso dos jornais do interior), inicialmente assusta os jovens repórteres, mas com o passar do tempo dota-os de uma capacidade ímpar no que diz respeito a encontrar meios de interpretar e noticiar esse que é o maior drama da nossa existência, o fim da vida.

Ao contrário do que muitos pensam conviver seguidamente com a morte não embrutece o repórter, pelo contrário, o faz capaz de compreender como a vida pode ser frágil e, desse modo, torna-o apto a compreender todo seu valor convertendo-o em um ardoroso defensor de sua preservação em todos os níveis e formas.

Aos futuros jornalistas que porventura passarem os olhos por este post fica a dica: peçam vagas de estágio nas editorias de Polícia e não irão se arrepender do que isso representará para suas vidas profissionais.

Aos editores fica o pedido: coloquem essa gurizada para ralar na Polícia antes de qualquer coisa, pois com certeza terão melhores repórteres no futuro. 

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Ainda há esperança para o rock and roll

Quando a gente acha que tudo está perdido em termos de música para as novas gerações eis que aparece essa pirralhada mandando ver em um dos maiores clássicos do rock pesado. Ao mesmo tempo que eles devem azucrinar a paciência da vizinhança, também devem encher de orgulho seus pais roqueiros. Depois disso a gente fica até mais otimista com relação ao futuro do rock and roll.

 (Prestem atenção no guri da bateria que manda ver, sem dó nem piedade e, também, no solo de guitarra, feito pela menininha à esquerda, uma verdadeira princesinha do heavy metal).


 

Enter Sandman, por Metallica ao vivo em Moscou

Em dias sombrios nada melhor do que abrir a porta e deixar o "mestre dos sonhos" entrar.


sexta-feira, 13 de abril de 2012

Rio Grande e a blogosfera



O mais ácido dos blogs rio-grandinos é também o mais lido.
Parece que a comunidade cansou  da mesmice da  imprensa formal
Desde a instalação do Polo Naval em 2006, Rio Grande tem ocupado espaço cativo no noticiário econômico e político do Rio Grande do Sul e, por vezes, nacional.  O crescimento vertiginoso da cidade tem sido pauta constante na imprensa, bem como os investimentos concretizados e prometidos. A cidade entrou no roteiro obrigatório de autoridades federais e a cada visita oficial os olhares midiáticos se voltam para a mais antiga cidade gaúcha. Mas além do desenvolvimento econômico há outro fenômeno curioso e para lá de interessante ocorrendo em Rio Grande e que, sinceramente, me agrada muito mais falar: a efervescência da blogosfera rio-grandina.  

De um ano para cá – ou pouco mais do que isso – blogs assinados por jornalistas, profissionais liberais, historiadores e outros “sujeitos pensantes” têm chacoalhado o marasmo característico da cidade dando origem a uma imprensa informal, mas extremamente atuante, crítica e – o melhor de tudo – preocupada em apontar os problemas que assolam a comunidade. Ao ocupar o vácuo deixado pela imprensa formal blogs como Gotas de Ácido, Memórias do Chico e Olhar de Rua (só para citar aqueles que acompanho) fazem escola e dão um sentido prático ao conceito de democratização da comunicação tão debatido nas faculdades de jornalismo desde os anos 90.

E tão sensacional quanto o surgimento de um movimento como esse é o fato destes blogs serem muito bem recebidos pela comunidade e - mais ainda – de conseguirem abalar a ordem vigente, o poder constituído e até a imprensa institucionalizada. A grande prova disso vem do Gotas de Ácido de Eduardo Bozzetti (o maior polemista que conheço) que em menos de dois anos no ar já ultrapassou a casa dos 100 mil acessos e, aí vem a nota triste da história, já foi obrigado a registrar queixa na Polícia Civil por causa de ameaças que tem recebido por causa de suas postagens e comentários verdadeiramente ácidos.

Bozzetti, todavia, já deixou de ser uma voz perdida no meio da multidão. Nas últimas semanas a jornalista Daniela de Bem, autora do Olhar de Rua, nos dá uma aula de jornalismo com a reportagem sobre o sistema de transporte público de Rio Grande (publicada pelo site Sul 21) na qual apresenta, como adereço de luxo, uma antológica entrevista com o prefeito Fábio Branco. Os dois ainda contam com a companhia do historiador Chico Cougo, autor de Memórias do Chico o qual costuma apresentar análises políticas consistentes, além de um variado cardápio que engloba cultura e, claro, história.

Seria muito bom ver Rio Grande fazer escola com essa sua experiência e semear por toda a região o surgimento de uma imprensa alternativa, crítica e socialmente preocupada. Afinal de contas não há cidade desta região que não precise de uma boa sacudida.


Quer ver mais? Então olha lá:

sábado, 24 de março de 2012

Domingão de rock

Neste domingo duas lendas do rock mundial estarão se apresentando em solo brasileiro. Em Porto Alegre, Roger Waters irá brindar os gaúchos com um pouco de sua genialidade incomparável e jamais atingida por outro mortal. Enquanto isso, em São Paulo, o Creedence Clearwater Revisited (uma versão do CCR com apenas dois dos quatro integrantes originais: o baixista Stu Cook e o baterista Doug Clifford) irá evocar algumas das canções mais marcantes e poderosas da história do rock mundial.

Para celebrar esse domingo de puro rock and roll em terras tupiniquins nada melhor do que uma pérola extraída direto do baú do rock om uma bela ajuda do Mr. Youtube.

(Prestem atenção no detalhe do sofá rasgado atrás de John Fogerty e pensem: qual estrela da música atual se apresentaria num ambiente com tal simplicidade e desleixo? Pois é, por isso que nestes tempos nos quais imagem é tudo, pouco ou nada presta em termos de música e a expressão "o bom e velho rock and roll" permanece mais atual do que nunca!)


terça-feira, 13 de março de 2012

Globo e Ricardo Teixeira: Amor Eterno

Charge publicada pelo jornal LANCE! nesta terça diz tudo
O Todo Poderoso presidente da CBF, Ricardo Teixeira caiu. Caiu de maduro sacudido por uma penca de denúncias e suspeitas de negócios ilícitos que envolvem, até mesmo, a Seleção Brasileira, um dos maiores patrimônios e motivo de orgulho para todos os brasileiros.

Teixeira que estava à frente da CBF desde 1989 - quando foi “entronado” sob as bênçãos de seu sogro João Havelange que por décadas a fio mandou e desmandou na Fifa – começou a ser alvo de denúncias em 1994 com o episódio conhecido como “voo da muamba”, quando os tetracampeões desembarcaram no Brasil trazendo nas bagagens muito mais do que a Taça Fifa. Naquele dia o presidente da CBF teria dado um carteiraço no pessoal da Receita Federal e impedido que as 17 toneladas de tralhas trazidas por jogadores e comissão técnica passassem pelo crivo da alfândega. (Por isso foi condenado e perdeu os direitos políticos).

 De lá para cá, se meteu em outros rolos como o contrabando de máquinas para refrigerar chope, favorecimento para que uma empresa de turismo monopolizasse a venda de ingressos para a Copa da Alemanha (2006), desvio de verbas do Mundial Interclubes realizado no Brasil em 2001, de receber propina da multinacional esportiva ISL (aquela que afundou o Grêmio) e de superfaturar os custos do amistoso Brasil x Portugal (2008) pago com dinheiro público. E isso é apenas a ponta do iceberg de irregularidades atreladas ao nome de Teixeira e denunciadas pela imprensa internacional, especialmente pela tevê inglesa BBC.

 No Brasil, as principais críticas contra Teixeira partiam da TV Record, do site Lance! e de colunistas especializados. O maior conglomerado de comunicação do país, a Rede Globo, todavia, sempre evitou criticar ou denunciar o ex-presidente da CBF. Apesar de contar com um time invejável de jornalistas investigativos e uma estrutura sem igual na América Latina, a Globo (tevês, jornais, rádios e sites) nunca moveu uma palha para levantar a sujeira sob o tapete do Poderoso Chefão da CBF. Durante o Campeonato Brasileiro de 2011, quando os protestos da campanha “Fora Teixeira” tomaram conta do Brasil, a Globo fechou seus microfones e câmeras para milhares de torcedores que se manifestavam de norte a sul do país diante e dentro dos estádios com suas faixas e cartazes.

Mas na noite de segunda-feira (12) o mais importante noticiário do grupo Globo finalmente se manifestou sobre Ricardo Teixeira em uma matéria com mais de três minutos (tempo enorme e que custa uma fortuna no JN) produzida e apresentada por ninguém menos do que Tino Marcos (o setorista nº 1 da Seleção Brasileira e da CBF) que fez um longo e belo balanço da gestão de Teixeira a frente da CBF, recheado de números, conquistas, imagens emocionantes, enfim, uma verdadeira declaração de amor eterno, que só ficaria melhor se fosse fechada com o bordão “Globo e você: tudo a ver” (pena que o Tino Marcos e o Bonner não pensaram nisso).

Vale a pena assistir de novo:







(*) Com informações de BBC Brasil

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

ACD/DC - Let there be rock (Que Haja Rock, em tradução livre)

Em uma manhã de chuva com pouco a fazer, nada melhor do que o bom e velho rock and roll para manter os olhos abertos e a cabeça funcionando. Revirando o baú do Youtube achei esta pérola que merece ser compartilhada. Eu tinha 5 anos quando gravaram isso, mas 35 anos depois, ainda me soa muito melhor do qualquer coisa que toque nas FMs do século XXI. O tempo passa, mas o que é bom fica para sempre.

Para quem curte rock and roll também é oportunidade de ver Bon Scott, um dos melhores vocalistas de rock de toda a história em plena atividade e, claro, rir um pouco da tosquice do videoclipe (definitivamente eles não eram nada bons nisso).
(Angus Young de sem um dos dentes da frente é a prova de que como o rock era puro e despojado nos anos 70)



quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Domingão de sol no Laranjal

Depois de enfrentar uma semana na qual os termômetros passaram dos 35ºC os pelotenses não tiveram dúvidas: fecharam os olhos (e o nariz) e se tocaram em peso para o Laranjal no domingo (19/2).

Nem o cheiro duvidoso que saía da água ou a lama preta que tomou conta da orla (vão dizer que são as algas) afastou quem não aguentava mais o calorão da cidade.



Mas como diz o ditado: tudo que é bom dura pouco.

E o que era para ser um domingão refrescante à beira da Lagoa dos Patos acabou sendo uma bela indiada para muita gente.


E quando o sujeito acha que está quase a salvo...


Como diria minha filha: "Eita!!!"

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Um ano de muitas datas redondas

Todo pauteiro adora uma data redonda.É a chance de encomendar uma especial sobre determinado assunto ou de requentar um bom material publicado anos antes, mas que agora já deve ter caído no esquecimento do leitor. Dependendo do tema pode render série candidata a prêmios. 

Para os bons jornalistas de Pelotas, o2012 será pródigo em datas redondas que dependendo da criatividade de cada um poderá render bons materiais. Vejamos algumas delas:

200 anos da cidade (a mais óbvia de todas, mas até agora nem um pouco explorada)
110 anos do Colégio Pelotense
100 anos do início do cultivo do arroz na região
100 anos da Faculdade de Direito da UFPel
70 anos do vôo histórico de Joaquim Fonseca (o Joquim) entre Pelotas e o RJ em seu avião artesanal (F-2)
70 anos da criação da Escola Técnica de Pelotas
70 anos dos ataques contra a comunidade alemã 
65 anos do vôo de Clóvis Candiota que inaugurou a aviação agrícola brasileira
30 anos de emancipação de Capão do Leão

Em se tratando de jornalismo local é bem melhor falar de qualquer um destes assuntos do que apelar para matérias sobre o fim do mundo ou previsões catastróficas como tem sido feito pelo jornalismo das emissoras, revistas e jornais nacionais.

“El derecho al delírio” (O direito ao delírio), por Eduardo Galeano


Eduardo Galeano

Percorrendo textos na internet encontrei esse que merece ser lido pelos olhos daqueles que sabem ser a vida a maior das paixões humanas e o mundo que vivemos a maior de nossas agonias. 
Obviamente ele foi escrito por quem mais entende do assunto, o uruguaio Eduardo Galeano que abriu as veias da América Latina e depois nos contou a história que nunca foi parar nos livros da escola.

O direito ao delírio

O que acham se delirarmos um pouquinho? O que acham se fixamos nossos olhos mais alem da infâmia, para imaginarmos outro mundo possível
O ar das ruas limpo de todo o veneno que não venha dos medos e das paixões humanas;
Os carros sendo esmagados pelos cães;
As pessoas não mais dirigidas pelos carros, nem programadas pelo computador, nem compradas por supermercados, nem também assistidas pela TV;
A TV deixará de ser o membro mais importante da família e será tratada como um ferro de passar ou máquina de lavar roupa;
Será incorporado aos códigos penais o crime de estupidez para aqueles que cometem: viver para ter ou para ganhar ao invés de viver para viver simplesmente, assim como canta o pássaro sem saber que canta e como brinca a criança sem saber que brinca;
Os historiadores não mais acreditarão que os países gostam de ser invadidos e os políticos que os pobres adoram comer promessas;
Ninguém viverá para trabalhar, todos trabalharão para viver;
Os economistas não chamarão mais o nível de vida de nível de nível de consumo e nem chamarão de qualidade de vida a quantidade de coisas acumuladas;
Os cozinheiros não mais acreditarão que as lagostas amam ser fervidas vivas;
A morte e o dinheiro perderão seus poderes mágicos e nem por falecimento e nem por fortuna um canalha se tornará um virtuoso cavalheiro;
Ninguém levará a sério alguém que não seja capaz de tirar sarro de si mesmo;
Em nenhum país ira prender os rapazes que se recusarem a cumprir o serviço militar, mas aqueles que querem servir-lo;
A comida não será uma mercadoria nem a comunicação um negócio, porque a comida e a comunicação são direito humano;
Ninguém morrerá de fome, porque ninguém morrerá de indigestão;
As crianças de rua não serão mais tratadas como lixo, porque não haverá mais crianças de rua, as crianças ricas não serão tratadas como se fossem dinheiro, porque não haverá mais crianças ricas;
A educação não será privilégio daqueles que podem paga-la;
A polícia não será a maldição de quem não possa comprá-la;
A justiça e liberdade, irmãs siamesas, condenadas a viver separadas, serão novamente juntas de volta, bem grudadinhas, costas com costas;
Na Argentina, as “Loucas da Plaza de Mayo” serão um exemplo de saúde mental, porque elas se negaram a esquecer nos tempos de amnésia obrigatória;
A Santa Madre Igreja corrigirá algumas erratas das escrituras de Moisés, e o sexto mandamento mandará festejar o corpo, a igreja também realizará outro mandamento que Deus havia esquecido: “Amaras a natureza da qual fazes parte”;
Serão reflorestados os desertos do mundo e os desertos da alma;
Os desesperados serão esperados e os perdidos serão encontrados, porque eles são os que se desesperaram de tanto esperar e eles se perderam de tanto procurar;
Seremos compatriotas e contemporâneos de todos os tenham vontade de beleza e vontade de justiça, tenham nascido quando tenham e tenham vivido quando e onde vivido, sem se importarem nem um pouquinho com as fronteiras do mapa e ou do tempo,
Seremos imperfeitos e a perfeição continuará sendo um privilégio aborrecido dos Deuses, mas neste mundo trapalhão e fodido, seremos capazes de viver cada dia como se fosse o primeiro e cada noite como se fosse a última.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Jornalismo Futilidade

Jornalismo da RBS TV é tão "leve" que poderia flutuar
Faz algum tempo venho observando as pautas e o conteúdo de alguns dos veículos de comunicação mais populares do Rio Grande do Sul e tenho me espantado ao perceber como editores e pauteiros têm conseguido minar estes veículos - que até dez anos atrás nutriam um respeito sacerdotal aos dogmas do bom jornalismo - com matérias de uma futilidade revoltante.

 Se há dez anos denúncias de desperdício do dinheiro público, corrupção ou desrespeito aos direitos dos cidadãos pautavam os telejornais da RBS TV, atualmente as maiores preocupações da pauta deste veículo estão relacionadas em como proteger a pele dos raios do sol no verão, como manter o corpo hidratado ou como organizar um casamento na praia. É a futilidade a serviço de ninguém e ocupando um espaço precioso e caríssimo.

 Uma das provas mais concretas disso tudo foi a cobertura dada pela RBS ao derramamento de petróleo no litoral norte. Nas várias matérias dedicadas ao assunto saltava aos olhos – e isso ficou muito claro no texto de repórteres e apresentadores - que a maior preocupação da emissora não era com os possíveis efeitos desastrosos do desastre ambiental para o ecossistema ou a pesca da região, mas sim em como os veranistas de Tramandaí ficariam prejudicados se fossem privados de usar a praia por algum tempo.

 Os telejornais locais do interior então são de dar dó. Na sexta (10) e no sábado (11/2), por exemplo, os principais destaques das edições do interior do Jornal do Almoço foram: A musa do carnaval (Santo Ângelo/2’12), show Michel Teló em Ijuí (Cruz Alta/1’59), Bagé e D. Pedrito irão representar a região em Capão da Canoa (Bagé/2’55), Procura por tatuagens aumenta no verão (Santa Cruz/5’07), Conheça as pessoas que apostam no crescimento de Rio Grande (Rio Grande/2’34) e Professor de dança mostra como não fazer feio no Carnval (Porto Alegre/2’05).

Nestes mesmos dias notícias de verdade como acidentes de trânsito com mortes em Farroupilha e Santa Bárbara do Sul, manifestação de policiais civis em Santa Maria e problemas no hemocentro de Passo Fundo ocuparam (somadas): 2’03 (dois minutos e três segundos).

 É o Jornalismo Futilidade tomando lugar do Jornalismo Verdade.

( E ainda deve aparecer gente defendendo isso).

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Wando no Céu

Imagino Wando tentando ganhar Deus na conversa para garantir um lugar no Paraíso: - Você é luz. É Raio, estrela e luar...

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Galeano: Sangue e Alma Latina

Se existe alguém capaz de captar e traduzir cada detalhe da natureza humana, esta pessoa é Eduardo Galeano, que com seu olhar tem desvendado não apenas a história da América Latina, mas também os ingredientes que formam a alma de sua gente. Em 2009 ele concedeu uma memorável entrevista ao programa Sangue Latino, que merece ser assistida acompanhada de um bom e amargo mate.