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domingo, 4 de dezembro de 2011

Esse “Doutor” vai deixar saudades



Mais do que um craque, Sócrates foi um herói do futebol brasileiro

Minhas primeiras lembranças vivas do futebol remontam ao final dos anos 70 e início dos anos 80 e estão intimamente ligadas a quatro sujeitos: Renato, Sócrates, Zico e Maradona.
Renato foi o primeiro e maior craque tricolor do qual me lembro. O modo como jogou e brigou durante a final da Libertadores de 83 e os dois gols marcados no mundial do mesmo ano, elevaram Renato a condição ídolo máximo de minha infância. Naquela época, eu queria ser Renato.

Mas foi em 82 que senti - pela primeira vez - como a paixão pelo futebol pode mexer com a vida da gente. A Seleção Brasileira comandada por Telê Santana foi a primeira pela qual, realmente, torci e foi a única por qual chorei. E entre a constelação de craques que desfilava nos gramados da Itália com a camisa canarinho um, em especial, era meu favorito: Doutor Sócrates.

A maioria de meus amigos era “devoto” do Galinho de Quintino, mas por influência de meu pai corintiano, o doutor era meu ídolo maior naquela seleção. Por ele comprava a cada três meses o Kichute do Sócrates (com reforço duplo no calcanhar) e fazia questão de sentar na frente da televisão a cada jogo do Corínthians.

Naquela época meu pai falava de abertura política, da democracia corintiana, de anistia e da necessidade dos generais serem apeados do poder, mas para mim o que importava de verdade eram os passes magistrais e os golaços do “Doutor”.

Lamentei quando Sócrates trocou o Corínthians pela Fiorentina e nunca aceitei vê-lo com a camisa do Flamengo ou do Santos. Para mim, Sócrates era corintiano, mais do que isso, era o próprio Corinthians, tal qual Renato era a própria personificação do Grêmio, apesar de ter vestido várias outras camisas.

Com o passar dos anos passei a acompanhar o “outro” Sócrates, o cara contestador, cheio de ideias revolucionárias, de sangue socialista e, acima de tudo, um cara que via o Brasil e o futebol muito além das quatro linhas. Isso só reforçou minha admiração juvenil pelo craque da bola, que se transformou em craque do pensar.

É uma pena, que nos noticiários sobre sua morte dêem mais importância a questão do alcoolismo do que às suas ideias e opiniões sobre nosso país e nosso esporte favorito. É muito medíocre falar apenas desse tipo de coisa quando se perde um patrimônio vivo como Sócrates. Mas, infelizmente, mediocridade é a palavra chave da imprensa brasileira do século XXI.

Em tudo isso fica a saudade de um cara que se foi cedo demais e que, com toda a certeza, deixou seu nome marcado na vida de muita gente. 

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