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domingo, 22 de abril de 2012

Polícia: uma editoria obrigatória para os focas


Dos 12 anos que vivi o jornalismo diário, quatro estive completamente imerso no noticiário policial, enquanto nos outros oito atuei – pelo menos - como plantonista da área. E se tem uma coisa que hoje percebo é: a editoria de Polícia deveria ser parada obrigatória para todos os focas que colocam seus inseguros pés dentro de uma redação.

Essa impressão advém de alguns pontos básicos que integram a rotina diária de um repórter policial, como por exemplo, aprender que a notícia não tem hora para acontecer. Ao contrário da turma da Cultura ou do Esporte que trabalha basicamente em cima da apresentação e cobertura de eventos com horários pré-determinados (o que torna possível programar e organizar tanto a produção como o fechamento das matérias) o repórter de Polícia deve estar pronto para o trabalho a qualquer hora do dia, da noite ou da madrugada, pois o crime não tem hora para acontecer. Essa imprevisibilidade dota o sujeito de uma capacidade de produzir numa velocidade consideravelmente superior a maior parte da redação, exceção feita à turma do Geral, que pega tão pesado quanto na Polícia.

A necessidade de estar sempre preparado para levantar de sopetão da cadeira, pegar o bloco e sair – literalmente - correndo para chegar rápido a cena de um crime ou para acompanhar uma perseguição policial, ajustam o timing do jovem repórter e o ajudam a se acostumar com o ritmo acelerado do jornalismo diário. Isso sem falar que é ótimo para a gurizada ir se acostumando a controlar a adrenalina e, claro, a pressão arterial (o que deve ser uma constante na vida dentro da redação).

A rotina tanto do plantão de polícia, como das delegacias é outro ponto que colabora na formação do foca. A obrigação de analisar minuciosamente boletins de ocorrência em busca de informações para as matérias aguça a percepção sobre detalhes e a necessidade de checar cada informação obtida com investigadores e delegados desenvolve a capacidade de questionar e confrontar dados, tão necessária aos bons repórteres. Isso sem falar que o chá de banco nas antessalas de delegados ajuda a forjar a paciência necessária a qualquer jornalista.

Outro ponto crucial é a convivência nada agradável, mas essencial, com um elemento que volta e meia está presente no jornalismo diário: a morte. Com toda certeza não há repórter mais habituado a lidar com a morte em seu dia-a-dia que o repórter policial. Essa lida quase diária (no caso dos jornais do interior), inicialmente assusta os jovens repórteres, mas com o passar do tempo dota-os de uma capacidade ímpar no que diz respeito a encontrar meios de interpretar e noticiar esse que é o maior drama da nossa existência, o fim da vida.

Ao contrário do que muitos pensam conviver seguidamente com a morte não embrutece o repórter, pelo contrário, o faz capaz de compreender como a vida pode ser frágil e, desse modo, torna-o apto a compreender todo seu valor convertendo-o em um ardoroso defensor de sua preservação em todos os níveis e formas.

Aos futuros jornalistas que porventura passarem os olhos por este post fica a dica: peçam vagas de estágio nas editorias de Polícia e não irão se arrepender do que isso representará para suas vidas profissionais.

Aos editores fica o pedido: coloquem essa gurizada para ralar na Polícia antes de qualquer coisa, pois com certeza terão melhores repórteres no futuro. 

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