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sábado, 4 de junho de 2011

A imprensa carioca e a revolta dos bombeiros

Cobertura da mobilização dos bombeiros cariocas se limita à versão oficial

A revolta dos bombeiros cariocas por melhores salários é, talvez, um dos mais impressionantes episódios do ano em termos de imagens, conteúdo e dramaticidade. Um prato cheio para os bons repórteres e os bons jornais sejam impressos ou de televisão. A cobertura dos acontecimentos da sexta-feira e do sábado, no entanto, foi lamentável.

Com raras exceções a imprensa carioca limitou-se a dar a versão oficial dos fatos, em vez de buscar os detalhes e as histórias por trás da invasão do Quartel Geral do Corpo de Bombeiros e, como era de se esperar, a ação capitaneada pelo Bope não recebeu qualquer crítica por parte da grande imprensa, afinal de contas a Tropa de Elite é a queridinha das TVs e jornais sensacionalistas.

Jornais (O Globo e Extra), portais de internet e emissoras da Globo prenderam-se à versão oficial do caso, condenando a invasão do quartel por parte dos bombeiros amotinados e fazendo questão de apoiar a versão governamental de que a rotina da corporação não foi alterada por causa dos protestos e, claro, dando todo o espaço possível para o governador Sérgio Cabral falar o que quiser e bem entender. Em um dos telejornais o comentarista da TV Globo foi direto ao ponto central da pauta da emissora sobre o caso: “a lei e a ordem devem ser mantidas e retomar o quartel a manter a ordem é necessário e deve ser feito”. O “drama” do coronel da PM agredido pelos bombeiros ganhou tanto ou mais espaço que o drama real das famílias dos bombeiros atacados e presos pelo Bope.

A Rede Record, que adora manter a boa relação com a polícia para conseguir imagens exclusivas, não fez muito diferente. Apesar de usar seu helicóptero para mostrar imagens dos bombeiros presos em São Gonçalo fazendo um SOS humano, a emissora de TV se focou na versão oficial do governo e pouca atenção deu aos manifestantes e ao drama das famílias e, muito menos, questionou a validade da ação de invasão do quartel central.

O Dia, um dos jornais mais populares do Rio de Janeiro, avançou um pouco mais na cobertura e fez um resgate decente da situação salarial dos bombeiros e lançou algumas críticas ao comando da PM. Já o Jornal do Brasil (JB) foi o único a dar igual espaço tanto para os manifestantes quanto para o governo e, produziu matéria com os líderes da manifestação dando voz às suas críticas ao governo fluminense. Coube, também, ao JB o mérito de relembrar que a mobilização dos bombeiros começou semanas atrás e ser o único a mostrar na prática o que acontece por causa da mobilização: o Corpo de Bombeiros demorou 1h30 para atender um incêndio em uma loja na Lapa na tarde de sábado.

Nenhum dos principais veículos de imprensa carioca, no entanto, foi capaz de lembrar que o confronto entre PMs e Bombeiros é o enfrentamento de servidores da área da segurança em um estado no qual segurança pública é sinônimo de caos e que sofrem com os mesmos problemas estruturais e baixos salários.

E, um pouco mais do que isso, é um embate que expõe uma grave crise institucional no governo do RJ e a incapacidade gerencial de um governador que conta com uma inexplicável proteção midiática e do Governo Federal. 

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