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quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Direto do baú: Há dez anos o fim das balsas rendeu uma deliciosa pauta

Dez anos atrás, por essa mesma data andava pelas margens do rio Camaquã e da Lagoa dos Patos acompanhado do repórter fotográfico Carlos Queiroz para fazer uma das mais deliciosas matérias que publiquei no Diário Popular. Ao revirar o baú de arquivos encontrei os textos, que compartilho aqui. Como foram duas páginas de textos, publico aqui somente a matéria principal deixando as retrancas para trás. Espero que gostem.


Barqueiros dão adeus à profissão

A inauguração da ponte que liga os municípios de Canguçu a Encruzilhada do Sul, prevista para o final do próximo ano representará, além do progresso para o interior das duas cidades, também, a extinção de uma profissão que durante séculos foi de fundamental importância para a região: a de barqueiro.

Vivendo em uma região cortada por grandes rios e lagoas, as populações da zona sul do Estado dependeram, por muito tempo do trabalho solitário dos barqueiros e balseiros para poder ir de um lugar ao outro. Algumas travessias acabaram tornando-se tradicionais como as do canal São Gonçalo (Rio Grande-Pelotas), rio Camaquã (Cristal-São Lourenço) e da Lagoa dos Patos (Rio Grande-Ilha dos Marinheiros), entre outras.

Dentro deste contexto, atrasos na entrega de mercadorias e a transformação de viagens simples, em verdadeiros martírios, eram uma realidade. Isso sem falar nos acidentes, que vez por outra, assustavam e até faziam vítimas entre os passageiros das balsas. Um dos mais chocantes aconteceu na travessia do Camaquã, em Cristal, no ano de 1950, quando um ônibus da linha Porto Alegre-Pelotas, caiu da balsa no rio. Aproximadamente 15 pessoas estavam no veículo. Uma morreu afogada, ao ficar presa embaixo dos bancos.


CREPÚSCULO 

Ao longo do século 20, barcos e balsas foram sendo, lentamente, substituídos por pontes de concreto, que facilitaram as ligações entre municípios e encurtaram distâncias. Mas mesmo hoje, em pleno século 21, ainda existe quem precise da ajuda de uma barca ou de uma balsa para poder seguir viagem.

Nestes grotões da região, os últimos barqueiros assistem ao crepúsculo da profissão, cujo desaparecimento completo depende apenas da conclusão das obras de construção de novas pontes. "É estranho ver a obra avançando dia-a-dia e saber que quando estiver pronta, vai ser o fim do emprego", confessa Euzébio Pereira da Silva, que diariamente atravessa pessoas e veículos pelo rio Camaquã, entre Canguçu e Encruzilhada do Sul.

A obra que vem sendo pleiteada pela comunidade desde a década de 80, começou a ser executada no início do mês e deve estar pronta no final de 2002. Além de um mairor conforto, a comunidade também vislumbra na ponte novas oportunidades de trabalho e renda. "Se mesmo dependendo da balsa já vem bastante gente passar os finais de semana na beira do rio, quando a ponte ficar pronta, então, isso aqui deve melhorar muito", prevê a comerciante Eloi Marques, que há 30 anos vive às margens do rio.


FIM PRÓXIMO 

Se a sobrevida da profissão barqueiro, no Camaquã ainda deve durar pelo menos um ano, na Lagoa dos Patos, entre as localidades de Torotama e Ilha dos Marinheiros, não deve durar mais do que algumas semanas. A ponte interligando a ilha e o continente deve ser inaugurada até o final de dezembro. "É o fim da balsa", setencia o barqueiro Jocemir Silveira, que passa 12 horas de seu dia realizando a curta travessia entre o continente e a ilha.

Mas, para aqueles que parecem ser os dois últimos barqueiros da zona sul do Estado a extinção da profissão é vista com naturalidade e, até mesmo, com otimismo, gerado pela perspectiva de uma vida melhor. "Sei que irá representar um crescimento para o lugar onde moro, por isso fico feliz e, no mais, a vida é assim mesmo: as coisas aparecem e desaparecem", resume o barqueiro da Lagoa.

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